/Notícias do Bairro e arredores |
A chamada "Bica da Rainha" é uma antiga bica, do tempo da colônia destinada a fornecer água aos passantes e moradores do alto vale do Rio Carioca.
Com a chegada da família real em 1808, o seu entorno tornara-se destino de passeios e encontros. A mina ganhou fama quando passou a ser frequentada pela Rainha D. Maria I. Depois de sua morte em 1815, o local continuou como um dos recantos favoritos de sua nora Carlota Joaquina.
A água dessa bica talvez pudesse ser ferruginosa - férrea - mas não há nenhuma informação confirmativa como ocorre com a da Tijuca, descoberta por D. Pedro I e com a do Cosme Velho identificada numa litografia de 1856 onde aparece uma edícula encimada por um frontão triangular com a legenda Agoa férrea.
No tempo da Rainha a bica era uma edificação composta por quatro colunas de pedra com capitel, conformando três panos; nas laterais havia óculos, no centro ficava a bica (foto acima). E foi em homenagem a D. Maria que em 1842 a fonte recebeu o nome de "Bica da Rainha", mas já nessa época sua feição original estava bastante modificada. Permanecendo como recanto escolhido pela elite para seus passeios, a área foi sendo urbanizada e em 1856 o entorno da Bica era um local bastante aprazível, sombreado por belo arvoredo. Em completo abandono no começo do século passado, a Bica foi restaurada por um particular e em 1938 tombada pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - SPHAN. Soa estranho esse tombamento vez que a bica, naquela ocasião pouco se assemelhava à que foi retratada por Maria Graham em torno de 1815 em seu livro Diário de Uma Viagem ao Brasil. Já na segunda metade do último século a mina havia secado, hoje restando apenas para a curiosidade de alguns turistas, um monumento tombado que, além de não ser o original do tempo da Rainha, não tem água.
Também causa estranheza aos turistas que passam pelo local, como poderia essa Bica, --construída, em meados do século XIX, como informa erroneamente a placa afixada no muro-- ter sido "local frequentada por D. Maria, Rainha de Portugal a partir de 1808". A Bica, na realidade é ainda do período colonial.
*José Pougy é engenheiro aposentado e morador antigo do bairro. Em 2009 lançou o livro "O BAIRRO DAS ÁGUAS FÉRREAS No tempo em que Carioca era um rio, a Rainha bebia na fonte e Cosme Velho não era velho" e atualmente faz pesquisas para um novo livro, agora sobre o bairro de Laranjeiras. Está colecionando histórias e segredos das ruas, do casario e das vilas do bairro para discorrer sobre sua formação e sua evolução até os dias de hoje. A partir de agora passa a colaborar com este site.