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Folha da Laranjeira: É comum te encontrar andando pelas ruas do bairro. Como é a sua relação com o bairro de Laranjeiras?
André Luiz Azevedo: É ótima. Tenho todos os parentes em volta, meu filho casado mora em frente, meu sogro mora no mesmo prédio e a família da minha mulher é toda de Laranjeiras. Aqui é um bairro que oferece bons serviços e tem preços razoáveis.
Acho que esse conceito de você apoiar o seu bairro, a sua região, é muito importante. Eu freqüento academia aqui, ia muito ao Fluminense e meus filhos estudaram no Liceu Franco Brasileiro. É claro que tem algumas deficiências.
FL: Quais são essas deficiências que o bairro apresenta?
André: Na parte de serviços posso dizer que nós não temos uma boa padaria. Havia uma padaria próxima de casa, que não era boa, e virou supermercado. Tinha uma outra próxima ao túnel Santa Bárbara, que também era horrorosa, e fechou. Recentemente abriu o Supermercado Zona Sul na Praça São Salvador, onde costumo freqüentar, mas que não é especializado.
Temos um problema crônico de trânsito. O bairro era de vocação de moradia no passado. A minha rua (Soares Cabral) era residencial, pois o trânsito era invertido e ela não tinha saída. Laranjeiras hoje quase se transformou em um bairro de passagem. Nesse trecho da minha rua existe um projeto original de passar um viaduto que daria lá na praça Ben Gurion, mas que foi feito pela metade.
FL: O que você faz para ajudar nessa melhoria da cidade como cidadão e jornalista?
André: Eu me questiono o tempo todo sobre a qualidade de vida na nossa cidade. Tem algumas coisas que irritam muito como a qualidade do serviço público e a qualidade da construção pública. Agora eu estava cobrindo o presidente Lula no Chile, numa cidade pequena do interior (Punta Arenas), e vi que a calçada não tem buraco e o asfalto é bom. Aqui em Laranjeiras teve o Rio Cidade, fez uma obra, fez uma reforma e você não sente um trabalho de manutenção do asfalto. Eu gosto muito de andar de bicicleta, então percebo o quanto o asfalto é horroroso. A Pinheiro Machado é toda remendada!
Não gosto de me valer da condição de jornalista para conseguir benefícios próprios. Acho que como jornalista o seu olhar pode transformar aquilo que está a sua volta em pautas boas.
Qual sua opinião sobre as manifestações contra a desordem urbana e o boicote ao IPTU?
André: Eu acho que a reação contra a desordem urbana é ótima. A reação contra a desorganização, contra os maus serviços, é perfeita. Só não acredito que o não pagamento do IPTU seja um benefício para o cidadão, porque isso vai levar a você pagar mais caro e também a levar a faltar dinheiro para a prefeitura fazer o serviço e não para o prefeito. Não concordo com essa política de não pagar, porque isso vai punir o consumidor e os serviços. A gente que tem que reclamar, mas não sei se esse movimento é saudável.
FL: Sua filha foi estagiária de jornalismo na Folha da Laranjeira. Como você vê a imprensa de bairro hoje em dia?
André: A primeira experiência dela como repórter foi na Folha da Laranjeira e esse foi um período que eu acompanhei mais próximo. Eu lia as reportagens, mas não interferia. A imprensa de bairro é importantíssima porque está voltada para os problemas locais e cada vez mais a tendência mundial é o jornalismo localizado, ou seja, o melhor jornalista é o da rua, o jornalismo mais importante é o do bairro, o regional e não o nacional e internacional.
FL: Os moradores te param na rua sugerindo matérias?
André: Como ando muito pelo bairro acabo sendo reconhecido. As pessoas que me vêem todos os dias já se habituaram, comentam as reportagens e eu percebo o resultado da matéria pela conversa dos caixas. Quando eles falam comigo é porque alcançou o objetivo. É comum as pessoas me procurarem para pedir algo em caráter pessoal achando que o jornalista vai resolver o problema pessoal dela. Daí eu sou franco, digo que não sou justiça nem polícia, faço jornalismo. As vezes o fato é de interesse maior da sociedade.
FL: Você já trabalhou em rádio, jornal impresso e está na televisão há 26 anos. Este é o veículo com o qual mais se identifica?
André: É uma linguagem que gosto de fazer. É um veículo que tem uma repercussão quando você acerta muito grande. É um lugar onde se vê um resultado imediato da sua informação, é um lugar que trabalha com a emoção que eu gosto. É o que eu aprendi a fazer.
FL: Tem alguma reportagem especial na carreira que gosta de destacar?
André: Uma reportagem marcante foi no início dos anos 90 pelo Jornal Nacional quando descobri e denunciei a máfia do INSS. Fui o primeiro repórter a ver que tinha uma roubalheira imensa na Previdência Social e descobri que existiam personagens que ficaram famosos depois como a Georgina de Freitas Fernandes e o juiz Nestor do Nascimento. Na época calculou-se que o roubo era de 800 milhões de dólares. Ainda teve um fato inédito, porque foi a primeira vez que se recuperou o dinheiro roubado que estava no exterior. Foi uma reportagem que me deu grande satisfação. Foi a primeira grande condenação em caso de corrupção no Brasil. Até hoje a Georgina está presa, isso já tem 15 anos.
FL: O jornalismo investigativo é algo que te chama atenção?
André: Ele teve uma ênfase grande na TV, porque houve um casamento muito bom. O jornalismo político, por exemplo, não é bem feito aqui no Brasil. Como os personagens políticos são feios, chatos, desagradáveis, falsos, não rendem boas imagens, nem boas histórias e a imagem do Congresso é sempre igual, acaba não casando bem na televisão.
FL: Depois de tantos anos fazendo televisão, o que te motiva acordar cedo?
André: A minha rotina é de trabalhar todo dia e muito. Só que eu trabalho por tarefa então é difícil ter um horário. O meu desafio é continuar sendo um repórter de rua. Hoje em dia meus colegas de rua são contemporâneos dos meus filhos. Eu sou um dinossauro na rua. Isso foi um trunfo que a Globo conseguiu de permitir que os velhos jornalistas continuassem na função de repórter sem precisar mudar de função para ter um salário decente.