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Rua General Glicério

Prof. Milton de Mendonça Teixeira



Antiga Rua Aliança, por ter sido nela fundada em fins do Império a Fábrica de Tecidos Aliança Industrial. Foi a maior do gênero do Brasil, com seus mil e tantos operários. Fechou as portas em 1937, depois de quase cinqüenta anos de funcionamento, sendo que, seu último proprietário, o Industrial Severino Pereira da Silva, mandou tudo demolir e abrir novas ruas, surgindo assim um moderno conjunto de edifícios de apartamentos, denominado “Jardim Laranjeiras”.

Neste local ocorreu a maior tragédia da cidade do Rio de Janeiro, em número de vítimas fatais.

Em princípios de 1967, uma moradora do bairro que passeava com os filhos pequenos na praça ao final da Rua General Glicério foi abordada por um velho de barbas, o qual perguntou se ela ali residia. Ao ser informado que não, ele respondeu que ela tinha sorte, pois em breve aquele local seria devastado por terrível tragédia e que aquele solo seria “regado por muitas lágrimas”. O velho prosseguiu seu caminho e não foi mais visto.

Semanas depois, na noite de 21 de fevereiro de 1967, depois de um período de fortes chuvas e enchentes, os moradores de Laranjeiras foram despertados por tremendo estrondo, correndo pouco depois, os rumores de ter sido provocado por um deslizamento devido ao deslocamento de enorme pedra de um dos morros de acesso à residência do Sr. Heládio Coimbra Bueno, na Rua Belisário Távora, que foi rolando, levando os escombros dessa, e destruindo dois outros grandes prédios de apartamentos da Rua Cristóvão Barcelos, na escuridão, em meio a gritos, e gemidos lancinantes.

Cento e vinte e quatro pessoas haviam deixado de existir em poucos segundos, tragadas por toneladas de rochas e detritos!
Foi uma das grandes tragédias dos últimos tempos, levando o luto a quase todos os moradores de Laranjeiras, e a outros bairros por terem sido atingidos parentes e amigos de inúmeras famílias, e não há palavras para descrever o que foram os dias seguintes a essa desgraça: a remoção, durante dias e dias, de cadáveres, assistida por uma multidão ofegante e tresloucada de ansiedade, enquanto a cidade inteira acompanhava o desenrolar dos acontecimentos pelos alto falantes.

No local, depois de executada grande obra de retenção pelo Instituto de Geotécnica, já não existem vestígios da catástrofe, mas quem pode passar por ali sem recordar as angústias daquela noite trágica.

Depois de realizada acurada perícia verificou-se que o desmoronamento ocorrera por ter sido realizado um despejo ilegal de entulho no alto do morro por uma empresa de construção. A defesa dos acusados, usando de artifícios legais e se baseando em detalhes pouco claros do relatório da perícia fizeram que, até hoje, ninguém recebesse indenização alguma pelo sinistro, nem que alguém fosse responsabilizado ou punido pela lei.

Ou seja, terminou tudo em pizza...




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Jornal da AMAL
ano 26 - nº 213
julho-agosto/06