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Mestre em Educação IESAE - FGV
Doutor em Comunicação e Cultura ECO - UFRJ


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No início de novembro os moradores de Laranjeiras e Cosme Velho foram surpreendidos com o anúncio do prefeito César Maia dizendo que a alça de acesso ao túnel Rebouças ficaria fechada por pelo menos seis meses. Depois de muita pressão popular e de ações conjuntas da AMAL, AMA-Cosme Velho e AMAB, liberou-se o acesso.
Para ilustrar o drama vivido pelos moradores no período em que viram o caos se instalar, ainda mais, no trânsito da cidade, publicamos o artigo da professora e moradora de Laranjeiras, Vanessa Paiva.

PARA REVITALIZAR A HISTÓRIA É PRECISO
RETROCEDER NO TEMPO?

Interromper a ligação do Cosme Velho com o Rebouças é alargar distâncias que já nem existem mais

Por Vanessa Paiva - Professora e Jornalista

Vontade de chorar. Foi isso o que senti ao ler a matéria “Planos para um novo Cosme Velho, com ou sem Rebouças”, assinada por Paula Autran, publicada na edição de ontem (04/11/07) do jornal O Globo. A chamada de capa já me deixou apreensiva. A imagem de um Cosme Velho romântico e tranquilo, livre do usual congestionamento provocado pelo túnel Rebouças, reforçou minha opinião inicial: vai sobrar para o Cosme Velho. Não deu outra. Cá estamos nós, moradores do bairro, ilhados, mas com a grande perspectiva de voltar a ser um bairro “de passado bucólico”, o berço de Machado de Assis. O escritor, que utilizava os espaços da cidade para ambientar suas histórias, certamente não teria gostado nada da notícia. Afinal, como perceber e retratar a cidade sem poder percorrê-la?

A suposta interdição definitiva das alças de saída e entrada do Rebouças no Cosme Velho vai, certamente, tornar o bairro mais calmo, “com crianças na rua, bicicletas, menos barulho e poluição”, como bem disse um dos personagens da matéria. Como moradora do bairro há 15 anos, concordo com tudo o que o rapaz falou. Para mim, a única coisa que não faz sentido é afastar o bairro do restante da cidade. Transito pela cidade com grande entusiasmo. Zonas sul, norte e oeste fazem parte do meu périplo cotidiano. Amigos, família e trabalho estão espalhados pela cidade. Se você não mora no bairro, acredite: uma das grandes funcionalidades de se morar por aqui é, justamente, poder se deslocar para os muitos lados do Rio.

Interromper a ligação do Cosme Velho com o Rebouças é alargar distâncias que já nem existem mais.
É, como querem alguns, “revitalizar a história do bairro”, recuperar um certo charme embolorado de um Rio de Janeiro que não cabe mais em si. Ora, para revitalizar é preciso retroceder? Discutir a qualidade de vida, os níveis de poluição do bairro, a revitalização histórica da região, os caudalosos engarrafamentos provocados pelos colégios da região e as extensas filas de ônibus de turismo que se amontoam ao longo da Rua Cosme Velho para visitar o Redentor: tudo isso precisa ser debatido, sim. No entanto, a solução para estes problemas não pode ser a interdição de um dos mais movimentados acessos de saída e entrada do bairro. Isto seria uma solução preguiçosa e derrotista. Quando o seu filho cai, você simplesmente o proíbe de andar?




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Jornal da AMAL
ano 27 - nº 222
novembro/2007