AMARCORD OFERECE A CRÍTICA DO FILME SYRIANA
Petróleo, política global e terrorismo
por Carlos Augusto Brandão
Syriana dá a Clooney um dos melhores papéis de sua carreira.
Este é sem dúvida um dos melhores momentos da carreira do ator e diretor George Clooney. Ele ganhou o Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante pelo difícil papel que interpreta em
Syriana , de Stephen Gaghan - selecionado para a 56ª edição do Festival de Berlim - e está colhendo os louros pela excelente direção de
Boa Noite e Boa Sorte , sobre Edward R. Murrow, o lendário jornalista televisivo da década de 50, ferrenho opositor do Senador McCarthy.
Syriana - que vai fundo na turbulenta questão da indústria mundial de petróleo - foi co-produzido por Clooney e, além de vir recebendo críticas altamente favoráveis, vem suscitando todo tipo de comentários.
As locações foram realizadas em locais tão diversos quanto Baltimore e Washington (EUA), Genebra (Europa), Casablanca (África) e Dubai, uma das sete cidades-estado que formam os Emirados Árabes. Poucos filmes foram rodados nos Emirados até hoje, e menos ainda um filme ocidental. Para conseguir permissão foi necessária toda uma estratégia de negociação que envolveu setores de inteligência do país e até a família real.
No filme, Clooney interpreta Bob Barnes, um veterano agente da CIA, prestes a se aposentar após uma longa e respeitável carreira. Seu filho está indo para a Universidade e o que ele mais quer agora é cumprir os seus últimos dias no emprego em tarefas sem maiores conseqüências. Bob está convencido que já cumpriu sua missão. Devotado à CIA, sempre acreditou que o seu trabalho beneficiava seu País e o tornava um lugar melhor para todos. Quando lhe é oferecida uma promoção para executar uma última missão secreta, ele não hesita em aceitar, não tanto pela atraente promessa, mas muito mais pela cega fidelidade à CIA. Mas a missão falha, Bob vira bode expiatório e é traído pela organização a qual devotou sua vida. Ao tentar entender o que aconteceu, descobre que mentiram para ele o tempo todo, foi sempre usado e nunca lhe foi revelada a motivação real para as missões que cegamente cumpriu por anos a fio. Essa última missão de Bob seria assassinar o Príncipe Nasir (Alexander Siddig), herdeiro aparente do trono de um país produtor de petróleo no Golfo, cujas ações recentes vinham ferindo interesses dos Estados Unidos. Jovem cheio de ideais reformistas e procurando mudar velhas relações com os interesses comerciais americanos, Nasir havia acabado de dar os direitos de exploração de gás natural - que eram da Connex, uma corporação da área de energia do Texas - para os chineses, que lhe acenaram com um valor maior.
No lado oposto na escala social do país de Nasir, estão os trabalhadores migratórios nos campos de petróleo cujas vidas são direta e drasticamente afetadas pelas políticas da família real e das oscilações da indústria. Saleem e seu filho Wasim, trabalhadores da Connex, perdem seus empregos nos campos onde os chineses vão assumir, e vêem seus futuros cada vez mais incertos, na medida em que buscam em vão por um novo trabalho.
O papel exigiu de Clooney a interpretação de cenas pesadas, como ser torturado e jogado no chão em um esconderijo de Beirute e para as quais dispensou dublê. Além disso, precisou engordar quase 14 quilos para desempenhar o personagem e ainda teve que fazer uma pequena cirurgia espinal para sanar um problema decorrente de uma queda durante uma das tomadas. Gaghan (roteirista de Traffic) procurou filmar de modo que as cenas transmitissem o máximo de realismo da caótica situação do Oriente Médio. Afirmando não ter fortes inclinações políticas o diretor diz que se preparou para o filme indo às regiões retratadas na história, guiado pelo próprio autor do livro.
Syriana é inspirado no livro de Robert Baer - See No Evil: The True Story of a Ground Soldier in the CIA's War on Terrorism.Matt Damon também está no elenco, no papel de Bryan Woodman, analista de uma empresa de energia, que vive com sua mulher Julie (Amanda Peet) e seus dois filhos em Geneve.O mais novo morre num trágico acidente, justamente quando Bryan está indo a uma festa da família do príncipe Nasir.Na tentativa de recompensá-lo de alguma forma, Nasir lhe oferece uma oportunidade de negócio, aceita por Bryan, a despeito da tristeza e desacordo de sua mulher.
Christopher Plummer, vive Dean Whiting - chefão da Sloan Whiting e um dos homens fortes de Washington - que tenta desfazer os negócios de Nasir com os chineses.Syriana é um filme diferente, onde não há heróis nem vilões claramente definidos e com muitas nuances e ambigüidades na trama.As múltiplas linhas da história são juntadas para mostrar as conseqüências da brutal perseguição pela riqueza e poder nas negociatas internacionais do mundo do petróleo.É um filme que certamente vai encontrar o seu público e, demonstra mais uma vez, que Clooney dá sempre o seu recado com competência nos papéis que interpreta, mas também se sai muito bem quando se coloca atrás das câmeras.
Carlos Augusto Brandão
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