Um cineasta em busca de novos caminhos
Carlos Augusto Brandão
Bubble - Uma Nova Experiência, de Steven Soderbergh é mais um exemplo que ele é sem dúvida um diretor ávido por ações criativas.
Em 1989, com 26 anos, despontou no mundo do cinema no Festival de Sundance com o surpreendente sexo, mentiras e videotape, um filme totalmente diferente e que lhe deu a Palma de Ouro naquele ano, tornando-se o diretor mais jovem até então a ser laureado com esse prêmio.
No entanto, a novidade em Bubble não está propriamente no filme e sim nos seus métodos de distribuição: nos EUA, foi lançado simultaneamente nos cinemas, nas locadoras e nos canais de assinatura, para dar maior liberdade de escolha aos espectadores e para que aqueles que não o vissem na tela grande, não tivessem que esperar por meses para assistir ao filme. A iniciativa pode fazer com que os grandes estúdios repensem o modo de fazer negócios e busquem novas formas de comercialização, principalmente num momento em que a bilheteria das salas de cinema tem caído no mundo inteiro. Outra inovação de Bubble é que ele é quase totalmente estrelado por atores não profissionais recrutados em salões de beleza, restaurantes, shoppings e estacionamentos.
O filme é um thriller sobre uma tragédia que acontece numa fábrica de bonecas envolvendo muito mistério, ameaças, ciúme e triângulos amorosos. Mais especificamente, segue a história de Martha, uma mulher que faz bonecas. Ela é interpretada, num ótimo desempenho, por Debbie Doebereiner, que na vida real é uma caixeira da cidade. Outros personagens são Kile, o jovem amigo de Debbie da fábrica e Rose, uma nova contratada de temperamento difícil. Um assassinato acontece e os residentes se reúnem para tentar descobrir o que verdadeiramente aconteceu. As locações foram realizadas em Belfre, uma pequena cidade de Ohio com uma população de seis mil habitantes.
Bubble é o primeiro de uma série de seis dramas de pequeno orçamento, parte de um projeto que Soderbergh participa também na produção. O filme custou apenas U$ 3 milhões, quantia mínima para padrões americanos e foi rodado com câmeras digitais. A forma de distribuição é uma iniciativa realmente ousada de Soderbergh, que está sendo realizada juntamente com a Produtora 2929 Entertainment. A exibição nos cinemas está a cargo da rede Landmark Theatre, de propriedade da 2929. O estúdio também se responsabiliza pelo lançamento em DVD. O Canal a Cabo HDNet, outro braço da 2929 que faz transmissão na tevê, somente poderá ser visualizado em aparelhos de alta definição (HTDV).
Todd Wagner, um dos dois donos da 2929, diz que o objetivo do projeto é dar aos espectadores maiores chances de escolha. “Já que um grande número de pessoas prefere ver filmes em DVD, por que elas têm necessariamente que esperar meses para assisti-los?”, pergunta Wagner, acrescentando não acreditar que isso afastará o público definitivamente da tela grande. “Quem prefere cinema continuará indo às salas de exibição”, afirma. Tratando-se de um projeto experimental e pioneiro, a expectativa dos produtores é que a iniciativa represente a entrada de fato do setor cinematográfico na era digital e numa maior interatividade com o espectador.
Para os cinéfilos da tela escura e puristas, no entanto, a novidade representa uma perigosa ameaça de que represente o primeiro passo para o fim do cinema como o conhecemos hoje.
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