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JORNAL DA CIDADANIA
Uma publicação do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas - Ano 11 . Nº 132 . Dezembro 2005

O lúdico e o real na experiência da TV Morrinho

No Morro do Pereirão, Rio de Janeiro, adolescentes criam projeto que gera renda e melhora a imagem da comunidade.


Não é sonho, é realidade.


Era uma vez um menino de 14 anos que não tinha nada para fazer quando chegava da escola. Certo dia, ele e seu irmão resolveram pegar alguns azulejos para construir casas e partes de lego que representariam pessoas. Era material para simular uma brincadeira baseada nas suas vidas reais na comunidade Morro do Pereirão, em Laranjeiras, Rio de Janeiro. Esse é o início da história do Projeto Morrinho, que, diferente dos contos de fadas, as personagens não esperaram um príncipe para acordar. Fizeram isso sozinhas, com esforço, determinação e um pouco de sorte. As primeiras maquetes foram construídas há oito anos. Hoje, as "casas" do Morrinho são feitas de tijolos - porque "as galinhas derrubavam tudo" - a brincadeira ficou séria, e além de estar abrindo oportunidades para quem dela participa, tem ajudado a melhorar sua auto-estima.

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Uma idéia, um projeto, a conquista e o mundo

Com cerca de 300 metros quadrados, a maquete representa 20 comunidades do Rio de Janeiro. Elas ficam mais próximas umas das outras do que na vida real, mas em cada uma delas é preciso ter uma referência da comunidade verdadeira.
No Turano, a semelhança está na quadra que fica logo perto da entrada. No Fogueteiro, a pracinha que fica do lado da quadra e os santos protetores das comunidades. E outras tantas aparecem: Providência, Complexo do Alemão, Querosene, Morro dos Prazeres, Andaraí, Borel, Formiga, Caju, Salgueiro, Morro dos Macacos. Cada uma com cerca de 150 personagens-moradores(as) feitos de lego.

No passado, chegaram a ver essa "brincadeira" como perigosa. Seria uma espécie de maquete das comunidades para um plano de invasão. O preconceito vinha de todos os lados. "As pessoas da comunidade quando iam no Morrinho pensavam que era coisa de marginal. A própria comunidade não aceitava bem a brincadeira. A polícia e outras pessoas chegaram a dizer que estávamos estudando outros morros, que era plano de invasão. Mas tudo já foi esclarecido", lembra Renato Figueiredo, 23 anos.

Nelcirclan de Oliveira, 22 anos, e seu irmão Mycom, 16, foram os precursores do que hoje podemos chamar de maquete urbana. "O meu irmão teve a idéia e eu desenvolvi para ele. Já brincávamos juntos nesse terreno", diz Nelcirclan. "A primeira maquete ficou bem feia, não tínhamos noção de como fazer as vielas, fizemos de qualquer jeito. Mas agora pegamos a manha", orgulha-se. E não é para menos. Essa brincadeira foi ficando bem séria ao longo dos anos e já recebeu honrarias como Prêmio Internacional de Dubai 2004 para as Melhores Práticas para a Melhoria das Condições de Vida, patrocinado pela municipalidade de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Trabalho atrás da imagem

Quando Nelcirclan estava terminando o ensino médio, seu professor de meio ambiente, Quico, ficou intrigado em saber onde estava aquele menino que teimava em faltar as aulas da tarde. "O professor não sabia que ficávamos aqui e resolveu perguntar o que estávamos fazendo. Os meus amigos falaram que eu estava no Morrinho", conta ele. Curioso, o professor foi conhecer o tal morrinho de perto. "Ele viu que estávamos trabalhando com meio ambiente, que cuidávamos da encosta", lembra.

Logo depois, um amigo do professor, o diretor de televisão Fábio Gavião, resolveu gravar um documentário no Morrinho. "Ele não tinha como ficar gravando o tempo todo porque quando junta cinco, seis garotos fica impossível. Então, preferiu deixar a câmera na nossa mão para que a gente pudesse retratar as historinhas. A partir de então, fechamos parceria com ele e criamos a TV Morrinho. Começamos a ser contratados para fazer trabalhos", diz Nelcirclan.

Isso foi em setembro de 2001. A TV Morrinho funciona hoje como uma produtora-escola e contribui na capacitação em técnicas audiovisuais para cerca de 20 rapazes e na geração de emprego. "Quando vim fazer o documentário, encontrei uma imagem muito poderosa. Pensei: temos uma imagem construída, vamos pegar essa imagem e criar vertentes que gerem renda e inclusão social", revela Fábio.

O projeto tem como vertente a TV, a exposição, o turismo, produção de camisetas. E tem descoberto outros talentos como o de Mycom, aquele que teve a idéia da maquete, e que acabou de gravar um CD de funk e um videoclipe. Adivinha por onde? Pela TV Morrinho que, em produções, chega a envolver 40 pessoas da comunidade, gerando trabalho.

E as meninas, não entram? "Meninas não entravam", explica Fábio. "Na brincadeira do Morrinho ainda é bem difícil, mas na TV temos algumas que trabalham com a gente. Ainda não estão envolvidas na parte de aprendizado audiovisual porque alugamos a sede há dois meses e estamos esperando a verba conseguida na Finep de R$ 56 mil." Ele diz que a falta de verba, infra-estrutura e de profissionais que serão contratados para trabalhar está freando o desenvolvimento do projeto. "Não adianta imaginar que eu e mais oito garotos vamos tocar um projeto social. A envergadura que o projeto tomou exige que se tenha um setor administrativo e comunicação mais eficientes", aponta.

O projeto ganhou apoio da Caixa Econômica Federal para urbanizar o morrinho e da Gênesis, incubadeira da PUC, mas o processo de trabalho vai deslanchar apenas no ano que vem. "O mais sábio que temos a fazer é importar uma metodologia. Quem tem experiência de projeto social é que poderá nos ajudar. Estamos clamando para fazer parceria com alguém que tenha know-how nessa área. Não adianta querer ser o inventor da roda, já tem alguém que tem um modelo eficiente nesse sentido. Estamos de portas abertas para que esse modelo chegue aqui", convoca Fábio.

Aos 3 anos de idade, o Projeto Morrinho já fez exposições no Centro Cultural da Saúde no Rio - passando por Campo Grande, Recife e Natal -, em eventos de moda, na Mostra Internacional de Arquitetura, Shopping Rio Design da Barra da Tijuca, Centro de Convenções de Barcelona, onde ocorreu o Fórum Urbano Mundial em 2004, entre outros. E acabou de participar do encerramento do Ano do Brasil na França, em Paris.

Na avaliação de Fábio, esse projeto vem gerando, espontaneamente, uma integração entre morro e asfalto. Em uma de suas vertentes, por exemplo, o turismo está sendo estimulado. "O diferencial de outras comunidades é que aqui se sobe para ver uma obra de arte e não para ver, morbidamente, como vive uma pessoa excluída no Brasil. Isso que acho genial", anima-se.

Além disso, pode-se notar uma diferença de atitude, tanto dos meninos em relação à comunidade e asfalto e viceversa. "Passamos na rua agora e as pessoas falam ´você é do Morrinho´. Sabem que somos sérios, sabem que na comunidade tem pai de família, trabalhador, pessoas dignas e não apenas marginais", conta Luciano. Renato completa. Ele diz que estimulam os meninos da comunidade a participarem do Morrinho. "É bem melhor do que ficarem à toa. O que fazemos valoriza a comunidade. Quem não é da comunidade passa a olhar o morro com outros olhos que não apenas os da violência. O pessoal aqui de Laranjeiras tem nos olhado de outra forma. Esse morro não era nada bem visto. Acho que o Morrinho está abrindo as portas para as pessoas daqui", diz.

Nelcirclan corrobora com os amigos. Ele percebe que passou a ganhar mais respeito da população, tanto da comunidade como do "asfalto", algo que não tinha antes do projeto e anima-se com sua mudança de postura e disciplina. "Discriminação, preconceito ainda existem, mas diminuíram. Todo garoto que mora em comunidade sofre preconceito e tem o preconceito dentro dele. Em vez de chegar falando com as pessoas, sair apertando a mão, fica sem jeito para conversar. Eu era fechado para o mundo fora da comunidade. Quando ia levar o projeto para algum lugar quem tinha que falar era o Fábio, agora nós falamos também. Depois que você vê que as pessoas lá fora são iguais a você, há uma mudança", conta.

Novela de sucesso

A experiência de vídeo da TV Morrinho já passa de três horas de programação editada, incluindo vídeos institucionais. Além disso, três integrantes do projeto fazem estágio na Cara de Cão e na TV Zero, produtoras parceiras. Renato Figueiredo é um deles e está na Cara de Cão há dois anos. "Primeiro fui para a ilha de edição e agora estou na produção", comemora. Renato pretende fazer faculdade de Publicidade e ser redator. "Gosto de escrever roteiro publicitário", diz.

Os planos para o projeto são muitos. Há uma novela que está sendo filmada e que tem como objetivo ser vendida para a televisão no ano que vem. Baseada no Morrinho, o primeiro capítulo, Destino insólito de Alex, conta a história de um bandido que morreu em um acidente de carro, mas a comunidade se revoltou porque achou que a polícia tivesse matado. "Depois tem as conseqüências dessa história", explica Fábio.

Aquele documentário, motivo pelo qual Fábio conheceu o Morrinho ainda não saiu, mas já tem 150 horas de material captados. Acabou se tornando um registro do nascimento de um projeto social com características bem peculiares. "Esperamos fazer o roteiro definitivo em 2006. As últimas rodadas serão feitas em Paris, que é um evento marcante. E teremos a contribuição do diretor André Horta. Eu, Morão Oliveira e Francisco Franca resolvemos convidar um quarto diretor para que ele crie um outro olhar, porque é inevitável que eu, como documentarista, vire um personagem. Então, com muito cuidado estamos chamando outra pessoa para dirigir a parte final", anima-se. Os planos futuros? "Queremos criar uma TV Comunitária. É a idéia que sustentou a vontade de ter a sede", diz.

Sede do Morrinho: (21) 2556-6759

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Na linha

Como toda brincadeira, a do Morrinho também tem regras. E se engana quem pensa que burlá-las pode ser um ato passado despercebido. "Queremos o bem para a comunidade, queremos fazer por ela, que os garotos daqui venham para o Morrinho, mas tem que levar a sério. Se for envolvido na vida, não pode brincar porque senão vai sujar o nome do Morrinho. A comunidade é superimportante", avisa Luciano. Se passar uma semana sem aparecer, sem limpar, sem brincar, perde o "morro". Não pode matar aula, senão sai. Não pode deixar cair os tijolos ou bonequinhos do "morro" do outro: "Se bagunçar o outro, tem que arrumar e o boneco não pode correr mais que um carro porque não seria natural", diz Luciano. Ele explica também que não pode mentir na guerra. "Se você estiver com seu bonequinho, que é bandido, e o outro estiver com a polícia querendo combater o tráfico, não pode matar o bandido sem a arma estar apontada direito, sem ter ângulo para ver o boneco etc", revela ele.

Luciano diz que na brincadeira retratam o diaa-dia da favela. Existem moradores(as) que ficam na praça, jogam futebol, vão em bares. A polícia que dá dura. "É o que acontece na realidade. Com o tempo, quando a galera do Morrinho começou a ficar mais famosa, a polícia parou de fazer isso com a gente. Já sabem quem somos e que não estamos na vida", conta. Os(as) moradores(as) também tomam atitudes contundentes. Fazem protesto nas ruas, mas tudo dentro da realidade. "Já chegamos a ficar aqui das 8 da manhã às 12 da noite", anima-se.

Mas, às vezes, há desentendimentos, Os mais novos, de 10, 13 anos, são os que mais costumam quebrar as regras. "Quando estamos aqui eles conseguem manter as regras, mas tem que ser o cabeça, dar sermão mesmo para ficarem na disciplina. Tem oito anos que estou nisso aqui dando esporro, tirando quem tem que sair", diz Nelcirclan.

Jamile Chequer / Fotos: Marcus Vini


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