JB online - Texto do Jornal - 23 de novembro de 2006
Uma velha fonte que traz à tona algumas idéias novas
Os concertos, saraus e festas de gala voltarão a ser realidade no Cosme Velho, no fim do ano que vem. E isto graças a uma troca de emails entre o historiador Milton Teixeira e o atual dono da casa 32 do Largo do Boticário, por onde passaram o pintor Cândido Portinari, a pintora Tarsila do Amaral, o cronista Rubem Braga, o escultor Bruno Giorgi e o arquiteto Lúcio Costa.
Depois de analisar uma planta antiga, do século 19, o historiador Milton Teixeira a enviou, digitalizada, para o dono da casa, que fez uma escavação e confirmou a existência de uma fonte no local.
A mansão construída em 1835 pelo Marechal de Campo Joaquim Alberto de Souza da Silveira - comendador da Ordem de Cristo e da Imperial do Cruzeiro e viador do Imperador D. Pedro II - se transformará em um misto de centro cultural e casa de festas depois da conclusão das reformas.
Os eventos serão abrigados na casa principal e em um terreno de 42 mil metros quadrados onde, depois de um ano de escavações, foram encontradas peças de séculos anteriores. A fonte do XIX desenterrada no último dia 15 - graças a uma planta encontrada há dois anos dentro do manuscrito "Cidade do Rio de Janeiro - Terras e Fatos" - será restaurada para voltar a abastecer a casa. Nas décadas passadas, tubos de pedra ligavam um afluente do Rio Carioca à fonte, que distribuía a água da nascente para os moradores. Além disso, a fonte ajudará a recompor o ambiente da época em que a casa foi construída, assim como os vasos, maçanetas e azulejos recuperados.
Os objetos recém-descobertos se juntarão às escadarias italianas e portadas espanholas do século XVII e aos portais de conventos baianos, trazidos pelo diplomata Rodolfo de Siqueira, um dos ex-proprietários da construção - cujo jardim original foi projetado pelo paisagista Burle Marx.
O atual dono, há seis anos, começou a reformar a casa que estava abandonada desde 1986. Na época, Maria Augusta Leão Ribeiro - proprietária do imóvel e sobrinha de Portinari - deixou de ter dinheiro para investir na residência que, em 1931, chegou a receber os futuros reis ingleses Eduardo VIII e Jorge VI - avô do Príncipe Charles.
Para o historiador e guia Milton Teixeira, a atmosfera artística da casa tombada somada às antigüidades nela existente tornam o número 32 do Largo do Boticário mais um atrativo cultural da cidade do Rio de Janeiro.
– O potencial turístico é imenso porque, além das riquezas históricas que abriga, o casarão fica praticamente ao lado do Corcovado – avalia Milton que, ao mesmo tempo, acredita no prejuízo do turismo pela ocupação de uma casa vizinha por famílias de sem-teto. – Grupos de estrangeiros já visitaram o local, mas a simples possibilidade de tumulto deixa os guias receosos em levá-los com mais freqüência.
Também por medo, o atual proprietário - que bancou a restauração sem patrocínio de qualquer órgão público - preferiu não morar no casarão, hoje guardado por seguranças e habitado por funcionários.