10/06/2011
Das ruas para o trapézio
Há 20 anos trabalhando com jovens de rua e de comunidades, ONG Se Essa Rua Fosse Minha conclui reforma e prepara cursos pagos de circo
Por Flávia Ribeiro
Em 1991, um grupo de educadores resolveu tentar mudar um pouco o cenário dos menores de rua do Rio de Janeiro. Surgia a Organização Não Governamental (ONG) Se Essa Rua Fosse Minha, que há 20 anos realiza um trabalho de arte-educação que já levou muitos meninos e meninas do asfalto para o alto de um trapézio. O carro-chefe do projeto é o circo. Malabares, cordas-bambas e rostos pintados começam, pouco a pouco, a fazer parte da rotina dos jovens. Muitos deles aceitam a ideia de freqüentar a casa do grupo em Laranjeiras (Rua Alice 298, telefone 3648-0298 ). Alguns voltam até para casa, a família e a escola. "Na literatura e no cinema, a gente tem aquela imagem de pessoas que fogem de casa e buscam abrigo no circo. O nosso circo é diferente, não é de fuga. É um circo de retornos", diz Antônio César Marques, fundador da ONG e seu atual presidente.
A casa do Se Essa Rua Fosse Minha acaba de sofrer uma grande reforma. Nova em folha, se prepara para receber um público diferente. A partir do segundo semestre, haverá oficinas de circo pagas à noite, durante a semana, e de dia, nos fins-de-semana. A ideia é atrair o público da região que pode pagar por um curso e reverter o dinheiro para o projeto. "Além disso, profissionais que quiserem alugar o espaço nos fins de semana para oficinas e workshops podem falar com a gente", chama Antônio César, lembrando que o projeto existe graças a parcerias. São elas que sustentam o Se Essa Rua, um centro de desenvolvimento criativo que já formou até artistas, que foram encaminhados à Escola Nacional de Circo.
Hoje, o Se Essa Rua Fosse Minha não lida apenas com crianças e adolescentes de rua. Embora um grupo de educadores ainda se dedique a ir às ruas trabalhar com esses jovens, o projeto também recebe em sua casa meninos e meninas de comunidades pobres da cidade, que moram com os pais e frequentam a escola, mas buscam ali novos caminhos. Já passaram por lá em torno de dois mil jovens ao longo desses 20 anos. Atualmente, cerca de cem têm aulas de circo, dança, teatro e informática. "Investimos no desenvolvimento cultural e buscamos garantir os direitos humanos deles. Também lidamos com suas demanda, desde em relação à saúde até a emprego", explica Antônio César: "Muitos se formaram na Escola Nacional de Circo. Três deles são professores no projeto hoje em dia, alguns foram para a Europa".
Além disso, cerca de 300 jovens do Cerro Corá têm aulas de circo na quadra da comunidade, no Cosme Velho. Alguns deles ainda descem para a casa da Rua Alice às terças e quintas. "As crianças do Cerro Corá e de outras comunidades já vivem com suas famílias, e ainda assim é um trabalho delicado. Com as crianças de rua, é mais que isso. Você às vezes leva dois anos trabalhando com um menino na rua antes de ele resolver freqüentar a casa. Lá, eles começam a retomar o significado disso, de casa. Depois, alguns voltam para as suas famílias e começam a trazer primos, irmãos e amigos", explica o educador, contando que a chegada de drogas como o crack tornou o trabalho ainda mais difícil. E, por isso mesmo, mais bonito e necessário.
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Fotos retiradas dos materiais de divulgação da ONG.
- Dando Bola pra Vida, A primeira fase do sonho
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http://www.seessarua.org.br/