JORNAL DO BRASIL | Segunda-feira, 10 de julho de 2006
REVOLTA SOCIAL
Pela primeira vez no Rio, patrimônio milionário fica nas mãos de radicais
Mansão é invadida por sem-teto
Felipe Sales
São 18h de sexta-feira e 20 pessoas cheias de bagagens se reúnem em frente à Igreja Nossa Senhora da Glória, no Largo do Machado, como se fossem a uma excursão. A viagem começa e duas kombis fazem, na verdade, a mudança de famílias sem-teto e militantes do Movimento pela Terra, Trabalho e Liberdade (MTL) para o casarão nº 22 do Largo do Boticário, no Cosme Velho, a mansão dos ex-donos do extinto jornal
Correio da Manhã tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Com novas estratégias e sem levantar suspeitas dos vizinhos ou donos do imóvel, a nova casa dos sem-tetos tem três andares, capela, piscina e um jardim com cerca de mil metros quadrados.
A invasão acontece em silêncio. Um grupo de não mais que cinco pessoas - incluindo um chaveiro - simplesmente trocou o cadeado do portão na madrugada de sexta-feira e às 20h da mesma noite, os novos moradores fazem a mudança. Depois das ruas e quitinetes, eles têm à disposição dois grandes salões, cerca de 15 suítes e uma fonte natural ligada ao Rio Carioca, além de outras cinco casas espalhadas pela área verde. A piscina, segundo eles, não será usada, a fim de preservar as vitórias-régias que se formaram com a passagem do tempo.
Essa foi a primeira invasão no Rio com tal requinte estratégico a atingir uma mansão. A diferença foi justamente a discrição, fundamental para permitir que os advogados do movimento entrassem com pedido de posse na Justiça já na segunda-feira. Segundo o advogado do MTL, André de Paula, o pedido de "manutenção de posse e interdição proibitória" deixa o processo sub judice e impede a entrada da PM.
- O que os supostos donos podem fazer é entrar na Justiça respondendo o nosso pedido, mas não adiantará porque o imóvel não tem função social, como diz a Constituição - argumentou. - No ano passado nós vencemos no Superior Tribunal de Justiça processo nos mesmos moldes contra a prefeitura.
A antiga residência do jornalista Paulo Bittencourt, dono do
Correio da Manhã, tem como herdeira direta a única filha dele, Sybil Bittencourt, de 80 anos, que agora mora ao lado dos invasores. Sábado à tarde, os Bittencourt, com um advogado, discutiram com os militantes.
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JORNAL DO BRASIL de segunda-feira, 10 de julho de 2006