O Globo Zona Sul - 19 de abril de 2007
Raves chegam a recantos da Zona Sul
Festas já ocorrem no Parque Guinle e no Cosme Velho e ignoram a presença da polícia
Por Rodrigo March
[email protected]
Realizadas normalmente em grandes áreas ao ar livre, distantes dos centros urbanos, as festas rave começam a invadir a Zona Sul, acabando com o sossego de moradores de lugares considerados tranqüilos na região. Só no último dia 31, duas festas sacudiram o Parque Guinle e o Cosme Velho. O casarão invadido por sem-teto no Largo do Boticário também quase foi palco de uma festa no fim de semana retrasado. O evento só não aconteceu devido à pressão dos moradores.
A primeira festa ocorreu na Rua Campo Belo, a mesma do Batalhão de Operações Especiais, o Bope.
– Às 7h, quando me levantei, o som ainda estremecia as casas da rua. Para piorar as coisas, quando fui buscar o jornal na entrada decasa, dois homens urinavam na minha porta. Fiquei chocada e reclamei. Responderam que estavam saindo do batalhão. Ou seja, eles se identificaram como se fossem do Bope, mas era nítido que estavam na festa, que durou até as 10h – conta uma moradora, que teme se identificar.
No Cosme Velho, a festa aconteceu numa casa no final da Rua Ererê, que fica atrás da Praça São Judas Tadeu (vizinha à estação de trem que leva ao Corcovado), onde há uma cabine da PM. O som começou às 11h30m e só terminou às 22h.
– A rua virou um mictório e foi tomada por carros. Fecharam até a entrada da minha garagem – lembra um morador. – O que mais me irritou foi a atitude da PM. Um policial disse que o barulho é relativo, pois morava em Bangu, ao lado de um pagode – diz outra moradora.
Estado promete fiscalizar eventos e boates do Rio
A Secretaria Estadual de Segurança está de olho no cumprimento da legislação na noite do Rio e promete, em dois meses, dar um basta às irregularidades, intensificando a fiscalização por meio do projeto Noite Legal, lançado no dia 4. As boates, casas de show e eventos que estiverem dentro da lei receberão um selo do projeto.
No caso das raves, por exemplo, quando a PM é acionada por um morador, os policiais devem verificar se o evento tem autorização da delegacia da área, da P-3 (seção de planejamento do batalhão da PM responsável) e do Corpo de Bombeiros. Além disso, a empresa de segurança da festa deve estar legalizada na Polícia Federal.
O mesmo vale para as boates, que devem ter ainda detectores de metal, cofres para o acautelamento de armas de policiais estaduais, câmeras e saídas de emergência. Policiais federais podem entrar armados.
O subsecretário-geral de Segurança do estado, Márcio Derenne, coordena o projeto. As vistorias – que ele prefere chamar de “visitas técnicas” – contarão com a presença das polícias Civil, Militar e Federal, além do Corpo de Bombeiros.
– Em dois meses, todos estarão legalizados. Quando o empresário perceber que pode perder dinheiro, vai agir dentro da lei. Ele não quer ter problemas. Quer mais freqüentadores – acredita Derenne.
A Secretaria de Segurança espera contar com o apoio dos organizadores de eventos e empresários, reunindo-se com eles a cada dois meses. A primeira reunião lotou o auditório da secretaria.
– No caso das boates, por exemplo, normalmente há um dia na semana em que elas funcionam a pleno vapor. Quero que os empresários me digam que dia é esse, para que eu possa alterar o policiamento do batalhão – explica o subsecretário.
A secretaria também espera que os empresários possam contribuir, doando motonetas para facilitar o patrulhamento, bastões de ronda eletrônica e rádios para agilizar a comunicação com a polícia.
-----------------------------------------------------------------------
Foto1 no alto: A porta da casa onde houve, no último dia 31, a festa da Rua Ererê, no Cosme Velho.
Foto2: O subsecretário Márcio Derenne coordena a Noite Legal
Fotos de Ana Branco