29/05/09
É sempre assim
São quase 11h, e ele vai chegar, ele não avisa, mas eu sei, não vejo sua presença física, sua face, seu toque, mas tenho a total certeza de que ele esta para vir, tem sido sempre assim.
São 11h e agora estou começando a perceber melhor a sua chegada, me ajeito na cadeira, vai começar a terrível tortura, todo dia é assim.
Como sempre ele não faz barulho algum, e sua presença vai se tornando mais e mais real, suave e decididamente toma posse do meu pequeno escritório como se tudo ali fosse seu, e vai me dominando, vai roubando meu autocontrole.
Ao seu primeiro toque, meu olfato reconhece, é ele, em minha boca a saliva se transforma e minha mente se dispersa e de olhos fechados me transporto para o mundo da imaginação.
O aroma é de molho, "molho madeira", extraído do lento, preguiçoso e torturante preparo de uma deliciosa carne assada, recheada com uma simples e singela cenoura a enfeitar o suculento e dourado assado de "lagarto redondo".
Vislumbro o molho: sua cor, lembra o tom de madeira de lei, sua textura é forte e envolvedora, em sua superfície pequenas e displicentes tiras de pimentões e tomates se dispõem ao acaso, como a enfeitar e a fazer a sutil união entre o molho e o prato de louça branca que irá acolher o nobre assado, em todo seu glamour dourado.
Resignado, acabo por desistir de escrever o texto planejado e fico a pensar como seria desfrutar do prazer de saborear uma fatia de pão do tipo francês, generosamente regada com este suculento e torturante molho madeira.
E a carne assada? obrigado, fico mesmo é com o pão com molho, ou será que existe alguém que resiste a um pão com molho? (
original Pão com molho)
Por Joaquim Santos
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