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Rede Social coleciona histórias de sucesso no Cosme Velho

Edna Araripe*

Alguns dizem que ela está acelerando alguns processos já existentes, produzindo uma energia nova; outros, que é um movimento inédito no Rio. Mas a receita de sucesso de dois anos de vida da Rede Social do Cosme Velho parece simples: a reunião de pessoas atuantes que interagem, com base na educação e crescimento social de todos, para gerar a convivência entre os moradores do bairro e as comunidades do Cerro-Corá e Guararapes.

Nascida como alternativa às propostas de combate à violência com mais violência, a criação da Rede envolveu, entre outros, o então presidente da Associação de Pais e Mestres (APM) do Colégio São Vicente de Paulo (CSVP), Sergio Castiglione, com apoio do Helcio Alvim, membro, na época, da Coordenação Comunitária, Pastoral e Social (ComPasSo) do CSVP, e atual coordenador da Educação de Jovens e Adultos (EJA) do colégio.

"A Rede Social nasceu do bom senso de quem sentiu que somos gente e vivemos como gente, não por nos defendermos uns dos outros nem nos armarmos uns contra os outros, mas por tentarmos conviver", ressalta Padre Lauro Palú, diretor do CSVP, que, além de ceder o espaço para os encontros quinzenais, é representado nas reuniões da Rede por um membro da ComPasSo.

Com pouco tempo de vida, a Rede Social conseguiu multiplicar suas ações. "Há um processo de troca. Se um precisa de computadores, por exemplo, outro indica quem pode conseguir. Tem sempre alguém oferecendo alguma coisa", conta Alceu Nobre Júnior, presidente da Associação de Moradores (AMA) do Cosme Velho e membro-fundador da Rede Social.

A REDE SE AMPLIA

A família de Luiz Vicente Ramos mora, há 70 anos, na Ladeira do Ascurra, onde ele nasceu. Trabalha com projetos sociais na Baixada Fluminense há 15 anos, mas não conseguiu desenvolver um trabalho semelhante no bairro. "Faltava apoio, espaço. A Rede Social está mudando isso ao agregar moradores e representantes de ONGs, empresas, associações e escolas em um grupo com vontade de fazer alguma coisa."

Já para Ana Paula Passos Hassan, a Rede é um facilitador. Coordenadora pedagógica do Projeto Dando Bola pra Vida, da ONG Se Essa Rua Fosse Minha , desenvolve projetos com crianças e jovens do Cerro-Corá, Guararapes e Vila Cândido usando a metodologia de Circo Social. Uma trupe formada por jovens desses projetos já fez apresentações no Colégio S. Vicente (no Domingão Vicentino) e no Colégio Sion (Semana da Cultura).

Um dos jovens desse grupo está estudando na EJA do CSVP. Durante o dia, ele tem aulas de malabares , de solo, monociclo e perna-de-pau, depois vai para a escola; ele acha que, agora, está no caminho certo. Ana Paula indicou ainda outro aluno para uma das duas bolsas-de-estudo que a Rede Social conseguiu em 2005 com a Cultura Inglesa, outro parceiro do bairro; a outra vaga foi ocupada por um jovem encaminhado pelo Luiz Vicente.

Também membro-fundadora da Rede Social, Ana conta que na época da fundação da Rede estava justamente procurando parceiros: "Ela possibilita ampliar o Projeto Se Essa Rua Fosse Minha porque consigo entrar em contato com mais pessoas, mais instituições".

A REDE GANHA NOVOS ADEPTOS

Athamis Bárbara, pedagoga, integra a Rede Social desde o início e montou o Projeto de Reforço Escolar na Ladeira do Ascurra por indicação do Luiz Vicente e sua irmã Roseli. Enquanto procura um parceiro local para o projeto, Athamis conseguiu verba para 2006 com a bailarina alemã Friedel Kloke-Eidl. As aulas são dadas a 26 jovens em um gazebo próximo à casa de outra irmã de Luiz Vicente, Rosa, eleita a melhor professora da comunidade.

Joannes Daniels, ou Ian, marido de Athamis, fundou em outubro a ONG VIC do Brasil , representante da VIC da Bélgica que já apóia outras associações no trabalho com crianças e jovens em risco de violência. Na reunião de lançamento, no fim de 2005, novas ações da Rede foram apresentadas, como o projeto coordenado pela Athamis com senhoras da Ladeira do Ascurra, que receberão aulas de arte-educação e artesanato dela própria e da atriz e arte-educadora Rossana Ramos.

No final de outubro de 2005, estas senhoras realizaram sua primeira reunião no Colégio Sion, já parceiro da Rede ao acolher, desde o início do ano, o Pré-Vestibular Comunitário , chegando a ter 45 alunos, entre pessoas do bairro, Cerro-Corá, Guararapes e de outras regiões da cidade. Mesmo sem divulgação, já havia vários inscritos no final de 2005 para o curso desse ano.

"O Sion oferece a estrutura do Colégio para esse projeto e montamos uma biblioteca para o curso com os livros que tínhamos em duplicata", explicam a diretora geral Irmã Luisa Maria e a diretora pedagógica Sandra Calvet, que dão assistência ao horário noturno do curso: "Designamos uma funcionária, a Maitê Japiassu, para dar suporte. Nossos professores se mobilizaram muito com o curso e nosso coordenador de disciplina, Marco Aurélio Siqueira de Miranda, comparece às reuniões da Rede Social".

O Pré-Vestibular Comunitário é coordenado por Nadja Moraes, diretora executiva da ONG Movimento Rio Carioca , criada em 2005, após se engajar na Rede Social. A ONG já organizou diversos eventos no Museu Internacional de Arte Naïf (Mian) para que mais pessoas conhecessem a instituição. Em troca, o valor do ingresso é revertido para os projetos da associação. "Realizamos mensalmente no museu o Feijão com Arte , com a adesão de cem a 150 pessoas. Engloba visita ao Museu, feijoada e apresentação musical".

A diretora do Mian, Jacqueline Finkelftein, explica que, através da Rede, o Museu pôde oferecer programações que unem lazer e cultura. "O Movimento Rio Carioca também montou em 2005 uma programação para comemorar o aniversário do museu, intitulada Dez Anos em Dez Dias. Em uma delas, recebemos 33 crianças do Cerro-Corá e Guararapes, organizando uma visita guiada ao museu seguida de oficinas de desenho".

Estas são apenas algumas conquistas recentes da Rede Social do Cosme Velho. É Padre Lauro quem conclui: "a Rede representa muita esperança para nós. Que ela continue por muitos anos!". E o bairro, certamente, faz coro.

* Jornalista e moradora de Laranjeiras

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Nadja Moraes, diretora executiva da ONG Movimento Rio Carioca, e sua filha Beatriz (foto de E.A.)

Luiz Vicente Ramos e Ana Paula Hassan: ele acredita que a integração é a saída para o bairro ter qualidade de vida; para ela, o grande papel da Rede é construir os laços que foram rompidos (foto de E.A.)

Alceu Nobre Jr.: "É um movimento novo, não vejo isso acontecer em outros bairros" (foto de E.A.)

O casal Athamis Bárbara e Joannes Daniels, e a amiga Maria Teresa Pereira, unidos também pela ONG VIC do Brasil (foto de E.A.)

Jacqueline Finkelftein: "A Rede é fundamental para as pessoas do bairro, é uma atitude em prol de todos" (foto cedida por J. Finkelftein)

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