O GLOBO

LICENÇA DE SEIS MESES PARA MÃES

A reportagem da capa da revista do domingo de 25 de dezembro, em data oportuna, nos reapresenta um tema que deve ser abordado de forma extremamente séria e objetiva por todos os envolvidos e interessados. Jovens adolescentes de todas as camadas sociais, de uma geração que vive hoje as consequências do afastamento precoce de suas mães, imposto pelo desordenamento familiar dos últimos 30 anos, devem ser diretamente inseridos na luta por uma lei da qual serão os maiores beneficiários, através de uma mobilização com debates e palestras nas escolas. Trabalho para a OAB, para a Sociedade Brasileira de Pediatria e para os dirigentes de escolas, que devem implantar e coordenar tais discussões, cujos resultados seriam certamente positivos a curto e médio prazo. Adultos responsáveis, com capacidade para brigar por isto, devem fazê-lo com toda a energia de que disponham, reivindicando ou legislando, mesmo que não mais em causa própria, mas de um futuro coletivo mais saudável. Não se poderá esquecer jamais de que o mais importante é a amamentação e não a licença em si, e que idêntica atenção, em contexto de ampla assistência social, deve ser dado àquelas que "amamentam sem carteira assinada". Muito mais trabalho para a OAB e a SBP, com difíceis, porém possíveis, resultados a médio prazo. Apesar do conhecimento técnico que me traz a profissão médica, pediatra que sou, acredito que o aspecto mais desejável do prolongamento da intimidade do contato entre mãe e filho é o resgate em sua origem do afeto de que todos estamos carecendo, do colo, do toque, do calor e do cheiro familiar, do coração e da respiração que se escutam de perto, e principalmente das longas e ainda indecifráveis conversas silenciosas entre os olhos daqueles que há tão pouco tempo não eram mais que um só.