CONTEMPORÂNEO V
CRISE DAS AUTORIDADES (Uma Nova Oportunidade)
Ouvi no rádio e li no jornal, a propósito de um incidente envolvendo ameaças de traficantes à policiais e seus familiares moradores de um conjunto habitacional num subúrbio do Rio de Janeiro, o seguinte comentário, feito pelo Secretário de Segurança, Sr. Marcelo Itagiba: _ "O Rio de Janeiro era uma cidade cercada por algumas favelas e hoje é uma favela com uma cidade no meio".
Independentemente do grau de veracidade do fato e do histórico político do fato, é importantíssimo observar que o comentário foi feito num contexto ligado à segurança. A abordagem desta forma, por uma autoridade desta área, denota alguns grandes absurdos: associa errônea e subliminarmente a população das favelas à marginalidade delinqüente, e não à geográfica ou à socio-econômica; exclui da marginalidade outros segmentos da sociedade; em nada contribui para elevar a auto-estima e auto-imagem dos moradores das favelas e dos cariocas em geral (uma criança que cresça ouvindo diariamente que ela é bonita ,inteligente, capaz e boa, será um adulto bem diferente das que ouvem permanentemente o oposto).
Um governante ou uma autoridade deveria ter mais cuidado com uma fala de tamanha profundidade social. Este comentário até poderia ter sido feito, ou poderia ser aproveitado, para profundas e sinceras reflexões por autoridades ligadas a áreas de urbanismo e desenvolvimento social.
Numa comparação freqüente, é costume escutarmos que São Paulo tem como lema e objetivos o trabalho e a produção (idéia e auto-imagem de compromisso), e o Rio de Janeiro teria como princípio de vida o lazer (idéia e auto-imagem de descontração).
Se uma população não é educada para respeitar os mais rudimentares códigos de comportamento e convivência como boa vizinhança, respeito ao meio ambiente e apego às tradições familiares, jamais será capaz de respeitar regras mais elaboradas. O carioca tem que ser levado ao estado de bem estar social, o que passa necessariamente por uma reorganização do código de posturas do seu cotidiano, num processo que exige legislação adequada (somos nós que escolhemos nossos legisladores - os vereadores. deputados e senadores), seguida de execução eficaz em sua divulgação, orientação e fiscalização (nós também elegemos nossos gestores – prefeitos, governadores e presidente), para só então, se necessário, conquistá-lo através da correção punitiva e educativa do judiciário.
Entendo então que o grande administrador desta cidade será aquele que parceiro dos destinos de seu povo, saiba como promover e gerenciar em todos os níveis e escalões o Lazer com Compromisso.
E este processo se inicia quando as autoridades administrativas abrem mão das conquistas pessoais fugazes e governam comprometidas com quem vê nelas a capacidade de gerar o bem estar para aquela sociedade.
Não sendo assim, teríamos ou teriam nos enganado na escolha dos nossos governantes.