Vez por outra arranjo um tempo para entender minhas coisas.
Semana passada eu estava na minha casa na Fazenda da Grama, admirando o trabalho cuidadoso do novo caseiro, sempre prestativo e muito rápido na execução daquilo que lhe é pedido.
Desta forma, a grama estava toda cortada, bem rente, um tapete.
As árvores, embora mais magras, já não tinham os muitos ramos de "pragas".
As cercas-vivas pareciam ter passado por uma dieta, aparadas e emagrecidas milimetricamente.
O agrado dos olhos se fez desacompanhado de prazer dos ouvidos, os pássaros perderam ninhos e sementes, e parte da vida voou para algum outro lugar.
Lembrei da minha mãe, que havia plantado "Sabiás", uma espécie de árvore alta com nome de pássaro, junto ao muro que separa o nosso terreno de um campo de futebol do local.
Um dia, com a explicação de que aquelas árvores tinham espinhos que furavam as bolas, zelosos funcionários da Prefeitura adentraram nossa casa e cortaram as Sabiás.
E os olhos dela se regaram da água que as Sabiás já não bebiam.
A vida passou, as Sabiás caíram, minha mãe alçou vôo com os Sabiás que nos visitavam.
Entender minhas coisas.
Lembrar em que lugar e com quem eu guardei e guardo cada pedaço da minha vida, por onde passeiam desde os caseiros às Sabiás.
Cair por terra, na grama rente e molhada, se ferir nos espinhos, lavar os olhos, e de novo alçar vôo.
Aprendi com tanta gente, mas.... com certeza aprendi mais com ela.
Guardei-me com tanta gente, mas.... com certeza mais com ela.
Dizem que o próximo Domingo é dia dela.
Comemoraremos aqui, tenho ela guardada comigo.
No outro Domingo levo ela de volta pra lá.
Sabiás nos esperam.
E minha mãe me guarda.
Sergio Castiglione
Endereços no bairro |