08/11/2007
ATITUDES DE PREVENÇÃO - XIX
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Problemas de Passagem
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Ruiu.
Transformou-se num estorvo,
numa mala.
Sem alça.
De passagem pelo ponto de ônibus percebi algumas crianças, de uniforme laranja, mais sorridentes do que já é costume da idade, num horário mais avançado do que normalmente as veria em sua descida das regiões mais altas para as Escolas Públicas do bairro. Fiquei imaginando quantas seriam. E quem teria feito por elas algo que as tornasse mais felizes e menos sonolentas àquela hora da manhã. Que bom para elas ter passe escolar com passagem grátis nos coletivos. Que bom para nós que elas não engrossem mais ainda aquela imensa multidão que usa um carro para no máximo duas pessoas, enquanto decanta em rodas de vinho a preocupação com os efeitos do aquecimento global.
De passagem por notícias oficiosas, em vias de tornarem-se oficiais, descobri que os órfãos da alça da direita encheriam, no máximo, em seu deslocamento diário, 80 ônibus coletivos, com aproximadamente 2.000 motores ligados a menos. Os da alça da esquerda (que de certa forma, também é de direita) contabilizam um pouco menos, talvez uns 1900 motores.
Preciso da ajuda de um ambientalista e de um economista para transformar isto em Créditos de Carbono.
De passagem pela rua, pela manhã, me percebi intrigado com uma suposta surdez e com minha respiração mais lenta e cadenciada, com caminhantes menos preocupados com o trânsito e mais falantes. Percebi que a razão disto era que, apesar da arrogância mantida por pessoas e máquinas que ocupam
desrespeitosamente a passagem das outras,
naquela conjunção que todos conhecem de: ambulâncias, kombis, caminhões de frutas, carros particulares despreocupadamente estacionados a serviço de uma entidade de ensino, com um ponto de ônibus mal colocado, meu tempo de percurso pela curta rua (no máximo 1000 metros) tinha sido reduzido de 25 para 5 minutos, melhorando sensivelmente a minha velocidade média naquele trecho, que antes não passava de 2 quilômetros por hora. Eu, e as pessoas que descem a rua em ônibus também, não sabemos transformar estes números em Créditos de Carbono.
De passagem pelos parágrafos acima e pelas remotas aulas de matemática, multipliquei:
3.900 motores
x 30 dias por mês
x 20 minutos de engarrafamento desnecessário por dia
x emissões de dióxidos, monóxidos, enxofre
x 0,1 % de perda percentual anual de áreas verdes.
Etc, noves fora, e vai um
= Cadê aquele ambientalista?
E o meu remédio para Asma?
Onde eu deixei o suco de maracujá
?
De passagem pela rua, à noite, que nos remete ao descanso do lar, tempo idêntico economizado, e Créditos de Carbono a mais, tive a sensação de que o lirismo e o romantismo de um fim de tarde não tem necessariamente que ocupar o meu setor de arquivo morto, sucumbidos às regras vorazes do automatismo urbano.
De passagem por muitas das minhas lembranças de andanças e instâncias de discussão, sobre estes e outros mais longínquos momentos, confirmei que a inércia e o egoísmo são parceiros de maus resultados.
Quando estiverem de passagem por aqui, percebam que este texto, também tão passageiro quanto a falta das alças que por certo ressuscitarão com a reabertura da mala, passa ao largo da discussão egocêntrica que inclui meus próprios contratempos urbanos, e abre os olhos para outras realidades que são comuns a todos e que necessitam conjunção de esforços.
Da passagem o verbo único é passar (mau ou mal), que não pode se impor ao ser, ao viver, ao estar, ao andar, ao respirar, ao participar, ao cooperar, ao refletir, ao discutir, ao progredir, ao prevenir, e a tantos outros que nos exigem atitudes.
Atitudes que cobramos dos que nos antecederam, pelo legado de irresponsabilidade que nos deixaram, mas que não temos mobilização e coragem suficientes para adotar.
Continuamos, sim, a transformar nossos problemas em passageiros, numa viagem de soluções imediatistas, que a cada dia que passa mais antecipa o seu ponto final.
Um passinho à frente aí, por favor!!!