09/01/2006

DROGAS LÍCITAS

Por Sérgio Castiglione

O Equilíbrio e a Saúde

O organismo humano tem como função principal a auto preservação. Como existimos há centenas de milhares de anos, nosso organismo aprendeu a se adaptar e se proteger para sobreviver. Assim, por exemplo, quando nos cortamos, paramos de sangrar ; senão, morreríamos até ao fazer barba. Isto se deve a produção de fatores internos da coagulação. Da mesma forma, produzimos internamente substâncias analgésicas, antitérmicas, antiinflamatórias, antibióticas, descongestionantes, calmantes, euforizantes, etc.

É obvio que a produção destas substâncias deve ser mantida em taxas controladas. Caso contrário, usando o modelo acima, a produção sem controle dos fatores da coagulação entupiria os nossos vasos sangüíneos e morreríamos.

Os mecanismos que aumentam e diminuem a produção de cada uma destas substâncias, visando o equilíbrio do organismo, são chamados de feedback (algo como vice-versa), e geralmente são orientados pelos nossos hormônios e por diversos sensores distribuídos em todo o nosso corpo.

O Desequilíbrio e a Doença

O que chamamos de doença é o processo do desequilíbrio do organismo. Algumas vezes a doença ocorre por fatores exclusivos da nossa estrutura genética; porém, em sua grande maioria, é resultante da interação do nosso organismo com os fatores ambientais, biológicos, físicos e químicos.

Desta forma, sempre que introduzimos um remédio (droga) no nosso sistema, alteramos seu equilíbrio. Se for, por exemplo, um antiinflamatório, alteramos toda a nossa produção interna destas substâncias e seus mecanismos de controle.

Abstinência e Dependência

Se produzirmos o suficiente para manter em "10 unidades" nossa taxa média de antiinflamatórios, ao introduzirmos "5 unidades" dessas substâncias (oral, injetável, etc.) no nosso organismo, os mecanismos de "feedback" avisarão nossos órgãos produtores das mesmas para diminuir a produção interna . Quando suspendemos a medicação, nossos órgãos produtores levarão algum tempo para retomar a sua produção normal. Durante este período estaremos mais desprotegidos.

Então é fácil entender porque alguns remédios (drogas) causam transtornos ao terem seu uso interrompido (síndrome de abstinência), ou causam dependência, desligamento, as vezes irreversível, do órgão produtor.

Efeitos Colaterais - A importância da dosagem

Todos os medicamentos /drogas agem por reações químicas. Todos têm efeitos benéficos e efeitos colaterais, levam a mais de uma reação química.

O maior problema da indústria farmacêutica é adequar a dose do remédio à verdadeira necessidade do paciente, e isto não é fácil. Cada organismo tem uma composição diferente, o que significa que cada um nós absorve, metaboliza (transforma), utiliza, reage e elimina os restos de um medicamento em intervalos de tempo e de forma diferente de outros indivíduos.

A solução atual é a utilização de doses médias. Por exemplo, um antibiótico dado na dose de um comprimido de 500mg de 8/8 h., poderá e deverá ser eficaz para a maioria das pessoas. No entanto, esta mesma dose poderá ser ineficiente ou excessiva para um outro grande número de indivíduos.

Quem destrói (transforma, metaboliza) a droga geralmente é o fígado. E, na maioria das vezes, quem elimina é o rim. Desta forma se pode entender porque pessoas com problemas hepáticos ou renais devem ter mais cuidado ao fazer uso dos remédios. Todavia, nem sempre sabemos quando temos problemas no fígado ou no rim.

O sistema acima exposto também se aplica para as outras reações químicas (efeitos colaterais /adversos das drogas).

Então podemos nos lembrar e entender, dentre tantas outras, as frases abaixo quando repetidas: tomei o remédio e me senti mal; parei a medicação e melhorei; da outra vez o remédio funcionou, e agora não; meu tio ficou bem, mas eu não melhorei nada; tive reação alérgica a um remédio que eu já havia tomado; teve "choque alérgico" com a medicação; tenho que aumentar a dose a toda hora, etc.

Uma visão crítica

SOBRE OS MÉDICOS - O uso dos medicamentos tem sido indiscriminado, abusivo, excessivo, e freqüentemente sem os conhecimentos farmacológicos por quem os prescreve .

SOBRE OS LEIGOS - A automedicação largamente utilizada pelo nosso povo, é um processo cultural provavelmente explicado pela multi etnia com forte origem nas tradições de povos primitivos com atividades extrativistas.

SOBRE OS GOVERNANTES - Ao Estado compete promover o verdadeiro sentido de saúde não podendo se abster dos processos de informação e educação e dos processos reguladores da divulgação.

SOBRE OS POLÍTICOS E OS EMPRESÁRIOS - Estes são os maiores interessados em vender ao povo aquilo que o povo compra, ou seja, remédios e crédito. Deixando a coisa como está, aferem ganhos e votos e mantém controle. Não nos sobram recursos bastante para lazer e cultura adequados.

Enfim, a automedicação é um dos grandes absurdos culturais do brasileiro; a falta de critério e conhecimento da prescrição é uma das piores conseqüências da má formação das escolas médicas; o empulhamento dos remédios em detrimento da verdadeira saúde é um conjunto de crimes.

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Sérgio Castiglione
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