10/07/09 - UM BAIRRO MELHOR
UM BOM DIA, NA BÔCA, E BEIJOS.
NO CORAÇÃO
_“Bom Dia, eu sou o seu filho virtual.
Aguarde na linha enquanto encerro a ligação com a mamãe, que está me enviando o contato do Disque Café da Manhã”.
_“Filho, o que você vai fazer hoje?
Tecle 1 para Computador em casa, 2 para praia com a namorada, 3 para cinema com os amigos, 4 para balada, 5 para reforço na conta, e a qualquer momento 6 para o Rogério do Táxi”.
_“Pai, espera enquanto abro meu e-mail.”
O crescimento dos nossos filhos vem acompanhado do surgimento de novas experiências, do alargamento dos limites, da implementação de novos costumes
Nos colocando à margem do processo, adotando apenas a posição crítica, estancados em nossas aquisições sociais e culturais, corremos o risco de ampliar de tal forma a distância que nos separa, que aquilo que hoje descrevo como brincadeira em breve se tornará realidade.
Ou seja, nossa comunicação se dará apenas por Messenger, Twiter, SMS.
Os que puderem, se cumprimentarão em conferência a três.
Não podemos simplesmente observar a evolução de um novo mundo sem participar, embora nem sempre isto seja tarefa fácil.
Há exatos 50 anos, o beijo na bôca fazia Splish Splash e dava até música.
Mas algumas coisas, extra-telas, não devem modificar.
Por mais que a evolução nos exija maior rapidez na comunicação, nossa humanidade só se preserva através de trocas pessoais.
Afeto não se transmite pela Internet.
A vivência das emoções requer o sistema presencial.
Corações sempre baterão em tic-tac e, ainda que acelerados pelas emoções, não terão sons polifônicos
Mesmo para as novas gerações, ávidas pelo viver, que instituem recordes de beijos na boca.
Seria retrocesso dizer que este tipo de procedimento não se reveste de afeto, pois ele reside exatamente nesta busca. Talvez, de forma equivocada. E percebi que vê-los se beijando tanto não me incomoda tanto quanto o fato deles não interromperem o beijo para me cumprimentar.
Deveriam criar o recorde do Bom Dia.
Participo razoavelmente do dia a dia do bairro que, diga-se de passagem, fica muito triste quando as escolas entram em recesso. Não há crianças correndo na rua, nem adolescentes se beijando. E nós, adultos, somos adultos demais para estas coisas.
Nesta época, acentua-se a sensação da necessidade do afeto presencial,
Nossas estreitas calçadas tornam-se excessivamente largas e quietas.
Ainda bem que alguns de nós pervertem a passagem do tempo.
E fazem da vida uma festa constante, sempre nos convidando a participar.
A idéia de um bairro melhor passa obrigatoriamente pelo reconhecimento à existência destas pessoas.
Existe uma pessoa que sozinha, sem celular e sem twiter, passa pelo bairro ocupando
todo o espaço e o silêncio das calçadas cumprimentando a todos com seu afetuoso sorriso.
A ela
Pela Internet
Meu paradoxal
BOM DIA, CONCEIÇÃO
E um beijo no coração
Para você,
Para o gerente do Bradesco que ainda não providenciou os puxadores,
Para os dirigentes das Associações de Pais e Mestres.