10/08/2006
ATITUDES DE PREVENÇÃO - VIII
Por Sérgio Castiglione
Aos Pais
E às Mães
A ciência da evolução das espécies admite como certo que o comportamento de cada um de seus membros reflete o comportamento evolutivo da própria espécie. É como se admitir que a identidade de um indivíduo, mesmo que única, não existe em separado da identidade de seus pares. Por outro lado, é correto também o entendimento de que esta identidade conjunta, refletindo a reunião das individualidades de seus componentes, a eles se transmitirá por meio dos processos genéticos e pela formação adquirida durante as experiências vividas.
Num país como o nosso, podemos observar claramente estes fatos pelo heterogenismo da formação de nossos membros, que se evidencia desde as diferentes formas de lidar com a água e o lixo até a forma como se organiza ou se absorve a nossa estrutura político-social em currais de influência.
É principalmente nos primeiros anos de vida que teremos a possibilidade de modelar algumas das aptidões inatas do bebê, interferindo de maneira positiva ou negativa nas interações que ele fará com o meio, influenciando assim de forma inevitável no futuro de sua vida e, conseqüentemente, de nossa espécie.
Observamos que, ao nascer, a procura imediata pelo seio materno não precisa ser ensinada. E as diversas aquisições do desenvolvimento psicomotor, desde sorrir até andar ou falar, acontecerão sem que haja (via de regra) qualquer intervenção externa. Nossa interferência deverá ocorrer, enquanto dependente ele for, para alimentar, cuidar da saúde e da higiene, proporcionar conforto.
É aí que temos que redobrar a atenção. Devemos lembrar, sempre, que estamos preparando um indivíduo para viver também num outro tempo, num tempo futuro, em que o adulto formado por nós e por nossas convicções viverá num mundo diferente do nosso.
Sinal dos Tempos.
Esta situação, pela qual já passamos em nossa própria formação, traz hoje uma defasagem de comportamentos muito mais acentuada que em épocas anteriores.
Basta lembrar o que representa, em termos evolutivos para cada geração, os saltos temporais decorridos entre: os desenhos de Leonardo da Vinci, os sonhos de Júlio Verne, o 14-BIS cujo vôo completa cem anos, o homem na Lua, as sondas em Júpiter, o advento da realidade da "Mulher Invisível". E ver o que cada um deles consumiu em recursos materiais do Planeta.
E o que mais os diferencia: passamos das ações de um, para a interdependência de muitos.
Retomo a linha do pensamento que tenta, mais uma vez, alertar-nos para os exageros, os erros, as condutas culturais mercantilistas de nossa sociedade capitalista contemporânea. Devemos ter o compromisso de identificar os processos que criam necessidades inexistentes apenas para que adotemos ou levemos nossos filhos a adotar uma corrente de consumo desenfreada, com aquisições e intervenções desnecessárias que, mesmo se nenhum mal imediato aparentemente causassem, estariam por si só influenciando negativamente no futuro de nossos filhos e de nossa espécie.
O Bebê, indivíduo originado da sociedade representada por pai e mãe, que tinha de imediato todo um mundo só para si (o útero materno), descobrirá a lateralidade dos dois seios e, aos poucos, precisará aprender a repartir o pão da Sociedade, e perceberá que a saciedade se torna cada vez mais difícil na medida em que aumenta o número de convidados à mesa.
É inequívoca a observação de quanto o processo de formação cultural se modificou e se tornou mais complexo, multimídia, não havendo mais apenas os discípulos de um Mestre, e sim o discípulo de muitos Mestres, tornando patente o processo de interdependência que hoje rege nossas vidas.
Estamos vivendo, pela crise do processo de Educação, um intenso e interessante dilema que demanda soluções urgentes: é preciso interferir positiva e vigorosamente na melhor formação de nossas identidades individuais para que tenhamos um melhor conjunto futuro.
Precisamos investir num falso paradoxo: Cultura. E Contracultura.