10/09/2010
SOZINHO EM CASA
Quatro pares de olhos negros me espreitam emergindo de um emaranhado verde escuro. Nao vejo seus corpos, mal percebo os traços de seus rostos, mas sei, não me perguntem como, que tais criaturas têm semblantes suaves e só me trazem os perigos da paixão.
Pássaros de ferro, às dezenas, de bicos e asas e caudas pontiagudas, mantém-se planando sobre minha cabeça, como se encenassem um estranho balé estático, sem passos, sem passes, sem piruetas, sem ameaças a não ser as de boas lembranças.
Lá fora, uma estranha árvore, de galhos finos, alongados e secos, se replica em sombra perfeita e abriga a vida e a morte, o oco, o que passou e o que vai chegar.
O quadro de Pedro Domingues, um dos mais lindos que já vi, tem os olhos negros de um artista que já se foi, mas volta a cada dia, a cada café da manhã, pendurando-se na parede da minha sala.
Um artesao, mineiro ou nordestino, transformou em beija-flores cor de bronze o ferro frio de Itabirita. Pairam no ar sem bater asas, buchas e parafusos, mas ganharam vida eterna quando os capturei numa loja em Penedo, doce lua-de-mel.
O caquizeiro, hoje com três pequenos ramos, estava totalmente seco até semana passada.
Há dois anos atrás, dois casulos surgiram e cresceram. Deles a vida se foi, transformada, colorida, sem aviso, sem ruídos.
Mas eles não caíram, nem com as grandes ventanias.
Casas vazias.
À espera de seus donos.
De olhos negros e apaixonados.
De asas de ferro com nobres envergaduras
De silenciosas e coloridas tramsformações.
Meus amores,
Onde estão?
Sergio Castiglione
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