CONTEMPORÂNEO I
THE DAY AFTER - Primeira Parte
Segunda Feira, 18/10/2004
Bom dia!
Parece a abertura de um telejornal famoso, um ameaçador noticiário que nos acua todos os dias.
Este bom dia, nesta 2ª feira, é derivado da "leitura" e releitura de um jornal de domingo (O Globo 17/10/04), dia em que aumenta a possibilidade de um maior número de pessoas ter atualizado seus arquivos de informações, e introduz alguns comentários sobre esta "leitura" baseados na experiência de erros e acertos pessoais, sociais e profissionais que povoam meus 50 anos de vida.
Dirigido aos amigos, desabafo e vontade de escrever, tema central original - violência - com vários links interessantes e um subtítulo: Cosme Velho, Colégio São Vicente de Paulo, Fazenda da Grama.
Se fosse preciso localizar geograficamente os locais desta crônica, pareceria fácil e exato. Nos mapas, certamente pontual. Mas assim como o tema central, estes pontos geográficos também tem limites amplos, imprecisos, entrelaçados.
Inicio a leitura do jornal pela revista. Na capa me deparo com a inusitada e contraditória figura do mar e do espelho retrovisor com carros engarrafados chamando para a matéria sobre o estresse carioca. Me sinto, a princípio, muito critico ao pensar que "leio: cariocas tem carro e espairecem num barco em angra de águas transparentes".
Na medida em que avanço na leitura, me acho muito condescendente: onde está a transparência?
Caminho em direção à matéria, passando rapidamente pelos inevitáveis apelos ao consumo: bens materiais, e pelos incontáveis textos, fotos, charges e reportagens direta ou indiretamente ligados ao sexo. Leio com interesse a concretude do texto "A Interferência do Tempo".
Afinal, na página 22, o tema; VIOLÊNCIA
"Já percebemos que a violência urbana, a crise econômica, os engarrafamentos e a
superlotação das áreas do lazer leva-nos diretamente para
uma nova medicina para tratar nossa ansiedade crônica" (1).
Prestem muita atenção em algumas das sugestões encontradas pelos entrevistados na reista, e à tal da "nova medicina" :
- Ir para a Barra de helicóptero ou pelo mar para evitar o perigo de São Conrado e da Linha Amarela.
- Ter um potente Volvo para se sentir mais seguro se precisar fugir dos bandidos.
- Instalar câmeras em casa para acompanhar o negócio; mudar-se para perto do trabalho.
- Transferir escritório do centro para a Barra
- Mudar o negócio de São Conrado para a Gávea.
- Meditação diária ½ hora 2 vezes ao dia, sem ser incomodada pelo motorista.
- Salas de descompressão com massagens e aromaterapia.
- Banhos no "ofurô" com ervas frescas.
- Técnicas de "feedback".
- Equipamentos e programas como o "procomp" e o "biograph 2.01".
- Sintonizadores de ondas cerebrais.
- Hipnose ( não serve a das novelas?).
Interessante observar, na dita matéria, que os especialistas afirmam que o melhor remédio para o estresse e a ansiedade é aumentar a autoconfiança e a auto-estima.
Então, que tal iniciar o processo desconstruindo as seguintes mensagens subliminares, todas fomentadas e "aproveitadas" pelos políticos e pelos indutores de consumo?
o brasileiro é feio e precisa de muito cosmético e de alisamento de cabelo a preços populares;
é pobre e precisa de comida a 1 real, salário mínimo e muitos auxilio-qualquer coisa ou bolsa-alguma coisa / coisa alguma;
é burro e precisa de muitos mobrais, artistas em campanhas de saúde ("deixa isso pra lá"); quotas de acesso; e tome novela;
é doente, disputado pelos planos de saúde, renegado pela saúde publica, precisando do remédio em casa, se possível a 1 real. E é violentamente ludibriado quando, num disfarçado exercício ilegal da medicina sem interferência dos CRM, do CONAR e do Ministério Publico, assiste e absorve pacifica e ignorantemente o empulhamento de medicamentos desnecessários a cidadãos já economicamente arrochados, através de comerciais veiculados com artistas e atores de alto poder de convencimento, em horário "nobre" (próximo de novelas ), e que terminam com uma infame tarja azul (não preta, sequer vermelha) onde se lê nas entrelinhas: " pratique a auto-medicação".
Sugiro aos meus amigos que tenham a curiosidade de ler o artigo - Toma que é bom para gripe - jornal da CAARJ (Caixa dos advogados) de 11/2003 escrito pelo Dr.: Drauzio Varella, e por cuja leitura no Fantástico - qualquer fantástico - aguardo ansioso e incrédulo.
Aliás, qual foi mesmo a contribuição de campanha dos laboratórios farmacêuticos para os principais candidatos às últimas seleções presidenciais?
Por enquanto, é isso. Mas acho que amanhã tem mais....
(1) Processos crônicos não tem soluções imediatas. Reequilíbrio necessita tempo, programação, obstinação, sinceridade de intenções.