12/02/2006
ILÍCITOS E DROGAS ILÍCITAS
Por Sérgio Castiglione
A discussão sobre o envolvimento dos jovens "da classe média" com as drogas ilícitas está em foco mais uma vez. Como sempre, após a apresentação dos fatos, as mesmas conclusões. Os pais erraram. Mas, como, porque, de onde veio isto?
Não erramos apenas como pais. Erramos, passado e presente, como sociedade, no mínimo por omissão. E não é somente a participação e a autoridade dos pais que está em cheque. Os demais alicerces da educação e da organização social estão seriamente corroídos e os jovens não são cegos ou surdos, e muito menos imunes ao que está acontecendo.
As manobras da maioria dos nossos governantes não são éticas nem transparentes, e nossos adolescentes, cobiçados pré eleitores, assistem a um festival de cinismo, tendo poucas chances de consolidar uma postura política crítica, independente e livre do assistencialismo, tornando-se voto fácil, manipulado. Favas contadas.
As atitudes de grande parte dos ídolos da juventude (incluem-se atores, apresentadores, desportistas, modelos, etc.), são ambíguos quando posam de uma forma para reportagens e entrevistas, mas procuram esconder outras tantas situações em que freqüentemente se envolvem e nas quais não ficariam "bem na foto". Às vezes, acobertados por corporativismos, pagam caro e ao credor errado, para não responder pelos erros cometidos. E as crianças e jovens estão aí, assistindo ou espiando.
Pastores trambiqueiros, padres pedófilos, disputas obscuras pela onipotência do poder religioso, "guerras santas", Budas derrubados, terreiros para o bem e para o mal, e lá se vai para o poço a nossa base religiosa.
Professores de academias que vendem ou indicam o uso de anabolizantes proibidos prometendo estereótipos de Adonis, induzem ao uso de ilícito de drogas.
Médicos despreparados, omissos quando aceitam trabalhar com a vida humana num sistema desumano, envolvidos em denúncias de vários tipos, também não contribuem para a boa formação de ninguém.
A mídia de um sistema ávido de lucros explora o culto desvirtuado ao corpo e à sexualidade.
Comércio e indústria, em parceria, sabendo exatamente que público-alvo querem atingir, promovem dias de acesso barato às bebidas alcoólicas, que são vendidas também a menores de idade.
Os jovens conscientizados deveriam procurar judicialmente reparos substanciais pelos danos morais e orgânicos que vêm sofrendo ao longo de tanto tempo, por todas as sandices que nós, os adultos, cometemos e lhes impomos.
Nós os levamos aos delitos, e depois ainda os punimos.
Infelizmente, para desespero de nossas porções-pais, eles continuam absorvendo todo este nosso lixo cultural e resolvendo as conseqüências disto no refúgio autodestrutivo das drogas alienantes ou euforizantes: as lícitas e as ilícitas que, da mesma forma que os "ilícitos", sabemos de sobra de onde vêm. Somos nós que fornecemos
Fora da inércia ainda há soluções, em generosas fatias para todos.
De menos hipocrisia, de maior participação,
E de "mea culpa" (ou um pouquinho mais).