CONTEMPORÂNEO II

THE DAY AFTER - Segunda Parte - As Violências Maiores

Terça-Feira, 19/10/2004 (Ou será que foi ontem?)

Se você chegou ao fim da 1ª parte, e se teve a possibilidade de acessar a revista, se deparou com o teste do estresse da pàgina 29. Depois de submeter-se ao dito, sintam-se como se estivessem sentados e imobilizados numa cadeira, olhando para a TV, quando surge alguém e lhe diz: "bom dia; você vai ficar doente num futuro imediato, a vida é agora; portanto tome maracujina ou serenum ".

Já.

Ou então, ligue para o nº do telefone na mesma página, e passe um agradável fim de semana em Búzios (veja a capa).

Me livrando, sem estresse, da reportagem, mas ainda na revista, me deparei com a pagina 48 falando da riqueza "invisível" ( para quem, cara-pálida ? ) da mata amazônica, e com a notícia da concessão de duas licenças para pesquisa de moléculas vegetais na nossa já famosa biodiversidade (empresas Extracta e Quest Internacional do Brasil).

Isto sim, com a devida transparência, é matéria de capa. É óbvio que alguns empregos extrativistas serão gerados, embora a tecnologia de ponta para produção dos perfumes e remédios possa não ser nossa .

Mais ou menos como disse em seu discurso um paraninfo da formatura de uma turma de engenheiros em 2003, que aborda o valor da matéria-prima e emprego gerado pelo extrativismo, tipo (Brasil = R$1 / kg de matéria vendida para fora + 1 subemprego extrativista nas minas ou nas matas x países detentores da tecnologia que transforma matéria prima em produto = R$100 / kg de produto vendido de volta para o Brasil e 20 bons empregos criados lá fora).

Na pagina 51, "DNA indica dose ideal de remédio" confirma-se que ainda há grande distância entre a verdadeira medicina e o comércio de medicamentos, tema amplo que tenho o cuidado de abordar exaustivamente com meus pacientes pacientes.

De trás pra frente no corpo principal do jornal leio a matéria sobre Ademir da Guia, eleito pelo PC do B, e suas frases mais interessantes são:

na minha época havia mais emprego e menos violência;

é mais fácil fazer gols que ser político.

Dá para encaixar no contexto, assim como a reportagem com a cantora eritréia Senait Mehari que foi criança-soldado na África e afirma que hoje ainda existem 300.000 soldados infantis naquele continente. Quantos existirão no Brasil ?

A página 37 mostra mais uma vez a clara tentativa da indústria de tabaco de associar o hábito de fumar com a conquista de sonhos de consumo que enchem os olhos dos menos críticos.

Se eu te convencer de que você tem um vício eu te prendo na rede que te adoece ou na rede que te cura, e as duas são dos mesmos donos.

Lembrem-se: NICOTINA É DROGA .

Nas páginas 33/34, uma reportagem sobre os Títulos do Tesouro Federal, que mostra a tentativa (conivências?) de algumas pessoas em receber por Títulos já "micados" (as famosas moedas podres) me levam à tentação de indagar: se reduzíssemos todos os delitos citados neste jornal a um mesmo denominador comum (digamos, $reais) quem movimentou mais dinheiro? os citados nas páginas policiais ou os citados nas páginas de economia? que classe: e, d, c, b, ou a ?

Contra qual destas classes sociais se abate o efeito mais cruel e deletério destes atos ?

Na página 28, "a revolta da vacina" traz uma interessante reflexão: quando voltaremos a ter Ministros e Secretários de Saúde com credibilidade suficiente para desbancar nossos queridos artistas nesta "árdua e gloriosa" missão de levar ao povo conhecimento e informações suficientes a respeito de medidas de prevenção na saúde.

Ou, deixa isso pra lá?.

O artigo de Rosiska Darcy de Oliveira, Crise de Autoridade, aborda com lucidez e clareza aquilo que eu talvez tenha tido dificuldade de sintetizar aqui.

Leio seu artigo e rendo homenagens à minha família e ao Colégio São Vicente de Paulo, lamento meus políticos, e gostaria de abordar o fato de que os papéis do médico e do líder religioso também estão seriamente danificados, contribuindo para o abalamento, ainda reversível, dos alicerces que sustentam o desenvolvimento de um indivíduo.

Propositadamente, não há que fazer comentários sobre as eleições nos EUA.

Nós somos mais importantes, nossos problemas são mais importantes e nossas soluções (e parece que também a deles) estão aqui.

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Sérgio Castiglione
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