20/03/09
POLÊMICAS II - ABORTO
A GÔTA D'ÁGUA
Este texto foi escrito em Setembro de 2008 para um grupo especial, a minha turma de Medicina da UFRJ de 1977, num espaço que chamamos "Papo de Botequim".
Dirigido ao Gabriel e sua filha, a Mariana, que interpretava no teatro "A Gôta D'Água".
Homenagem a um colega corajoso e íntegro, Dr. José Gomes Temporão.
Homenagem às mulheres, senhoras absolutas da vida.
E a todos nós, aprendizes honestos de nossas dúvidas.
Aí estão todos voces, de novo, no botequim.
Mas alguém poderia não estar, o que seria grande perda.
Não sou contra, muito menos a favor. Como a maioria, aborto tais dilemas.
Simplesmente porque nunca fiz asolutamente nada para impedir a concepção,
Sobre o tema, coleciono histórias.
E algumas eu reconto.
Minha mãe sofreu durante trinta e cinco anos pela dor moral de um aborto provocado.
Por sorte, sem consequências.
Foi agraciada, em melhores tempos, com 3 filhos homens.
Mas queria uma menina.
Tentou mais quatro vezes.
Quatro abortos expontâneos.
Todos bem assistidos.
Ganhou netas.
Levou sua dor e deixou uma história.
Tenho um filho de 28 anos, pediatra, alguns conhecem.
Uma grande e promissora figura.
Havia um segundo bebê, era gemelar, que não nos chegou por força de um sangramento após pequena queda.
Haveria vitalidade?
Como seria?
A interrupção da gravidez foi prêmio? foi castigo?
No segundo casamento, realizados como pai e mãe, eu com um casal e ela com outro casal, havia consenso de ser o bastante.
Uma gravidez nos colocou em cheque.
Enquanto discutíamos a realização ou não de um aborto, a natureza nos jogou contra a parede.
Alterações na evolução.
"Ovo cego".
Corações ocos.
Um ano depois, Giovanna.
Corações que transbordam até hoje, quase 16 anos passados.
Homens e Mulheres não são iguais.
Temos aprendido, mas devemos admitir: - ponto para elas.
Os filhos não tem sexo, são todos iguais.
Assim como a Sociedade ainda não tem justiça, e muito menos igualdade.
A dúvida é honesta.
A quem, e como, proteger?
Quem deve fazer parte do elenco?
Assim como a Mariana, do Gabriel, a minha Giovanna também se aventurou em interpretações, amadas e amadoras, na vida.
"Sempre que pensamos sobre a nossa existência deveríamos deitar nossos olhos no mar; e tentar entender porque ele tanto nos atrai ou atormenta.
A água.
Começamos a vida dentro dela, uma gota se encontrando com outra".
Sérgio Castiglione
Médico Pediatra
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