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20/08/2010

DAS JANELAS


OS OITO URUBUS

Quando sonho de voar, meu vôo é igual ao do urubú.

Não sei exatamente quantos anos eles vivem.
Mas eu os observo há muito tempo, da janela da minha sala, na Praça Saens Pena.
Eles moram no morro do Colégio Militar.
Um dia me disseram que aquele monte se chamava Pedra da Babilônia, e também soube que a Catedral do Rio de Janeiro ia ser construída lá, escavada na rocha.
Já estive lá no alto várias vezes, quando criança e adolescente, para soltar papagaio e dar linha na pipa.
Não me lembro da presença dos urubus, mas eu já tinha sonhos de voar.

Pois é. Praticamente todos os dias eu os vejo, nos céus da Tijuca.
São oito. Parece que são quatro casais, e passam boa parte do tempo brincando de roda, fazendo piruetas e mergulhando um atrás do outro, como crianças.

Às vezes eles se aproximam de outro grupos que estão de passagem.
Logo os grupos partem e eles retornam ao morro.
Às vezes se aproximam do meu prédio.
Como se viessem me desejar Bom Dia.

Será que eles também me observam há anos?

Eu os mostro às crianças como quem aponta estrelas no céu.
Conto esta história, parte de uma natureza cuja existencia a gente não tem mais tempo para observar, perceber, ptoteger.

Quando estou muito agitado, com o mundo e o relógio girando rápido demais na minha cabeça, paro tudo e fico olhando para eles, acompanhando seu vôo, reorganizando meu tempo.

Creio que fazemos então silenciosos acordos, trocamos secretos desejos que, à noite, contaremos em sonhos para as estrelas.

Não sei exatamente há quanto tempo elas existem.

Mas sei que as observo há muito tempo.

Das janelas da minha vida.



Sergio Castiglione
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