24/03/2006
ATITUDES DE PREVENÇÃO - I
Por Sérgio Castiglione
Faz algum tempo que me vejo direcionando pensamentos e atos para o que chamo de Medicina Preventiva, e acho que só agora, enquanto estou escrevendo, me dou conta do significado real deste caminho. O domínio do tempo, a antecipação dos fatos a tempo de modificá-los, a idéia do prognóstico capaz de impedir desperdício de recursos e de energia, de otimizar o aproveitamento da vida.
E tudo é uma questão de hábito, de filosofia de vida, de percepção da mudança dos Tempos.
Tomei a decisão de dividir esta abordagem em capítulos e, por ser Pediatra, pensei tomar como ponto de partida os momentos que antecedem a concepção de um novo Ser, algo como Pré-Nupcial (poucos fizeram isto, e faz tempo).
A vida de qualquer um de nós começa quando dois outros seres se unem, antes apenas naturalmente, e hoje também de formas não tão naturais, mas em ambos os casos dependem da existência desses dois, de cada um desses dois.
A nossa existência, como indivíduos, já esteve somente sob nossos cuidados. Mas isso também faz tempo. Respirávamos um ar que não precisava ser monitorado. Bebíamos a água dos rios sem precisar saber dos índices de cloro ou de coliformes fecais. Nossa alimentação não precisava de tanta logística desde a produção até o consumo, passando pela estocagem, industrialização e distribuição, e não estava à mercê dos atravessadores e da flutuação do Dólar. Caminhávamos com cuidado apenas de não atravessar a trilha de animais rasteiros e dos grandes predadores. Nossos limites não eram grades de ferro. Nossas maiores catástrofes eram as naturais. Dividíamos a caça e o sustento sem cobrar juros. Drogas, remédios, pra quê?
É óbvio que tudo mudou. Mas, para a maioria de nós, não está claro que tudo está mudando, todo dia, todo tempo.
E que nossa existência já não depende apenas de nós mesmos.
Dependemos dos gestores do nosso meio ambiente, das Companhias de Água, das Centrais de Abastecimento, dos órgãos de trânsito e segurança, da boa vontade dos gerentes dos bancos, da paciência e do tempo dos nossos médicos.
Mas não devemos nos contentar em ser espectadores, e sim os atores de todos os tempos.
Para podermos hoje ser um, amanhã ser dois, e depois ser três, é preciso que se desenvolvam as idéias de autoconhecimento e de conhecimento da evolução da espécie humana, de seu processo de troca com o meio, de cultura e de educação, de segurança e de respeito. De participação de todos.
AS CALÇADAS DA SBP
Moro no Cosme Velho. Praticamente em frente à majestosa casa da Sociedade Brasileira de Pediatria. Sou membro da Associação de Moradores do Cosme Velho e da Rede Social do Cosme Velho. As calçadas dos dois lados da rua são estreitamente perigosas e as curvas tem inclinação inversa do que seria apropriada. Os acidentes são freqüentes, e o muro da Sociedade de Pediatria está danificado pala mais recente colisão. Os gestores públicos de nosso trânsito e segurança já foram avisados inúmeras vezes do quanto estamos correndo risco, e mesmo tendo entre eles candidatos às próximas eleições que são residentes no bairro, não tomam providências.
Pelas calçadas desta rua passa o tempo.
Se não fizermos nada, para algumas crianças pode não chegar o tempo do pré-nupcial, e não mais serão um, nem dois. Nem três. Nem indivíduos, nem capítulos.