25/08/2006

ATITUDES DE PREVENÇÃO - X

"De grátis", coisa nenhuma

Por Sérgio Castiglione

O Rotavírus faz milhares de vítimas todos os anos, no Brasil e no mundo, e as crianças são as mais atingidas, principalmente até os seis anos de idade, trazendo muita ansiedade e onerando sobremaneira as despesas com a saúde

Esta é uma afirmação verdadeira e, ...para que teria ela sido veiculada há uma semana atrás como notícia de abertura do telejornal mais assistido no horário nobre da TV?
A resposta começa a surgir no capítulo de ontem do nosso novelesco cotidiano, quando a médica leva ao colega a sua filha, aparentemente já com mais de um mês de vida, levantando sua imensa preocupação com as vacinas (é bom que se diga que a primeira vacina a ser aplicada é a Hepatite B, nas primeiras vinte e quatro horas de vida) e é tranqüilizada pelo Pediatra que informa que serão feitas todas as que fazem parte do calendário, e também as complementares.

Embora possa parecer que este é apenas mais um comentário simples abordando a forma como o alarmismo bem engendrado é utilizado, inclusive com a entonação de voz bem colocada, para arremessar a notícia contra o super angustiado telespectador em seu sofá, a minha intenção crítica é um pouco mais ambiciosa.

O Rotavírus existe, ele é perigoso. O vai e vem do lançamento desta vacina é do conhecimento dos profissionais da área, e nós não temos como negar a importância de tal medida de prevenção frente a uma patologia de potencial tão agressivo.

A crítica se dirige a outro ponto, a uma palavra inserida na reportagem e que comporta uma afirmação que não corresponde à realidade, é ilusória e enganosa (propositalmente ou não) quando diz ao cidadão que ela é gratuita .

Não é. É cara, muito cara. Nos serviços privados de vacinação chega a ter preço acima de R$ 250,00 o que pode dar uma idéia do seu preço de custo. Até onde sei, não é fabricada por laboratórios estatais, sendo portanto comprada do laboratório fabricante por valores que tenham sido acordados como justos.

Mas a crítica não poderia residir neste ponto, e sim no fato de que outras importantes vacinas para o sistema de prevenção de doenças não são implantadas no serviço público por falta de recursos que cubram o seu alto custo (Hepatite A, "Catapora", Pneumococos, Meningococos C).

Na verdade, o importante é que a população saiba que a vacina do Rotavírus não é uma concessão social de qualquer situação governante vigente, não pode ser usada como moeda de troca, e não pode ser uma conquista para comemorar como se tivéssemos atingido o auge das ações preventivas de saúde.

Ela é uma conquista cara, paga antecipadamente por todos os brasileiros, mesmo os que não usufruam dela, através de seus impostos diariamente recolhidos aos cofres públicos. Fonte, aliás, de onde vêm todas as conquistas sociais em habitação, urbanismo, saneamento, saúde, educação, limpeza, iluminação pública, etc., cabendo aos governantes escolhidos por voto apenas administrar destes recursos.

Creio então seja necessário, imperioso, urgente, que se leve à população, inclusive e principalmente às crianças, desde muito cedo, concretas noções do nosso sistema tributário.

Só assim seria possível compreender a importância de exigir notas fiscais, dizer não à pirataria, combater as evasões e sonegações, punir os superfaturamentos públicos e as políticas econômicas desastrosas que, ou não recolhem aos cofres públicos (leia-se poupança do povo) aquilo que promoveria igualdade de distribuição e acesso aos recursos sociais, ou retiram destes mesmos cofres esta poupança acumulada com muito esforço, usando-a para pagar royalties e juros ao capital especulador.

Com certeza, esta gratuidade ilusória da vacina de Rotavírus não é a notícia mais importante de nenhum dos nossos dias.

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Sérgio Castiglione
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