29/02/2008 -
COTIDIANO IV
Os Limites, do Compromisso ao Poder
Queridos Amigos
Há dias, talvez influenciado pelo "revival" televisivo, pela polêmica carnavalesca, pela renúncia do Fidel (último ícone da humanidade, comprometido seja lá com o que for), ou pela intensa troca de mensagens que vem ocorrendo entre minha turma de Medicina formada em 1977, tive um "papo-cabeça" com minha mulher sobre o quanto ganhou importância nos últimos cinqüenta anos a conjunção dos fatos relacionados a estes três temas.
A tese desenvolvida a partir destas reflexões, longe de se tornar um dogma, me faz repensar diariamente sobre minha existência. E, se "penso, logo existo", me sinto reconfortado em não fazer parte da massa amorfa e autômata em que tentam nos transformar a cada soar do despertador com "toques polifônicos".
Em tese, concluí que nossos limites, impostos a princípio por uma vertical hierárquica descendente (do Poder para baixo), necessitam ser desafiados e quebrados numa vertical hierárquica de sentido contrário (do Compromisso para cima), residindo neste contexto todo o processo evolutivo.
O Poder, guardião dos limites, não é livre para pensar.
Talvez, nem para sentir.
Partindo desta formulação, o crescimento (que além de experiência e cansaço, nos traz poder) é fator que nos leva fatalmente à inércia, posto que distante do compromisso de evoluir, quebrar dogmas e ultrapassar limites, sentados em nossas metafóricas poltronas-tronos nos dispomos apenas a ditar as regras e fazê-las cumprir.
Penso que posso transferir esta tese para todas as situações da vida passando pelo machismo marital do chefe de família (antes namorado apaixonado), pela rabugice do pai de uma adolescente de quinze anos (há fotos de pai-babão sentado no chão), pela postura por vezes semi-endeusada e descansada do profissional (médico sonhador quando recém-formado, ativista da Faculdade).
Se cada um de nós perdesse, digo, ganhasse algum tempo refletindo sobre isto, ganharia muito mais o mundo com a reentrada em atividade de tamanha "força de trabalho", experiente em poderes e compromissos, capaz de ampliar os limites dentro dos quais temos sido enquadrados desde o nosso polifônico despertar.
Em tese, apenas em tese.