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À ditadura militar não interessavam as críticas inerentes aos textos e/ou interpretações teatrais...
Por Gilson Nazareth




Laranjeiras (bairro de todos)
No concurso Laranjeiras em Prosa e Verso, houve, por regulamento, dois primeiros lugares na poesia.


Sérgio Cézar: O Arquiteto do Papelão

Fábio Amaral

No alto, bem no alto da Rua Cardoso Júnior, na última casa de uma antiga vila, encontramos o artista plástico Sérgio Cézar, mundialmente conhecido como o "Arquiteto do Papelão". O clima bucólico e o ambiente familiar com que os moradores se cumprimentam, dá o tom da entrevista. Na mistura de casa e ateliê estão as festejadas favelas em miniatura construídas com material encontrado no lixo. Lá também estão suas novas apostas: bolsas estilizadas em formato de tijolos e barracos. Mais uma invenção de um artista que, há 20 anos, quando poucos falavam sobre reciclagem, conseguiu inovar e hoje, além dos fãs, ganhou seguidores e é imitado por muitos.

A entrevista aconteceu no Armazém Cardosão, que o próprio Sérgio define como um lugar para "tomar uma cerveja e pegar inspiração". Em meio aos amigos (Marinho, Mariano, Bola, Alê, Cláudio, entre outros que passaram por ali durante a entrevista), e alguns copos de cerveja, Sérgio falou não só do trabalho pioneiro como também da preocupação social que tem por aqueles personagens simples, em sua maioria moradores de favela, que indiretamente são retratados em suas obras.

Nascido na rua General Glicério, onde seu pai era porteiro, o contato com a arte aconteceu desde criança. Isso porque um dos moradores do prédio era o artista plástico Luís Alphonsus Guimarães. Todo aquele movimento de artistas de vanguarda despertou o sonho de um dia ter o seu próprio ateliê. Mal sabia aquele jovem, que um dia teria um espaço freqüentado tanto por pessoas simples e que admiram o trabalho, quanto por celebridades e críticos movidos pelo ineditismo.

Os que ainda não conhecem o trabalho do "Arquiteto do Papelão" poderão visitar a exposição "De Santa a Central - A Paixão pelo Futebol", que será inaugurada dia 2 de maio no Centro Cultural da Justiça Federal.

Ex-jogador de futebol, ex-segurança, ex-modelo e ex-fotógrafo. Como foi sua trajetória até conseguir viver de arte?
Comecei a jogar bola no Flamengo aos 12 anos e fui até o profissional do América. Mas a minha história sempre foi a arte. Aos 20 anos eu larguei mão de tudo e fui trabalhar com arte. Demorei uns cinco anos até conseguir viver só do meu trabalho. Nesse meio tempo trabalhei de segurança, quando conheci a Luisa Brunet, que viu que eu levava jeito para ser modelo. Desfilei com a Monique Evans, fiz dois filmes dos Trapalhões, mas sabia que aquilo não era minha praia. O Corpo passa, a idéia fica.

Você se considera um homem de sorte?
Eu tive sorte. Eu sou um artista que conseguiu criar uma coisa nova num mundo onde nada se cria, mas se copia. Eu criei a arquitetura do papelão, a estampa do sudário, trabalhei em escultura em pedra, bronze, argila, madeira, antes de chegar no papelão.

De onde vem a idéia de trabalhar com reciclagem?
Meu pai reaproveitava tudo. Se alguém jogasse um armário fora, ele juntava para ajudar o pessoal do Morro Dona Marta. O que eu aprendi disso é que ele reaproveitava por necessidade. Eu via que ele sempre colocava uns cabos de vassoura no pé do armário e nem ligava se estivesse feio, porque o objetivo do armário era guardar coisas e não ser bonito. Isso você vai aprendendo na vida. Você não julga a pessoa como ela é por fora. Eu não tinha intenção de reaproveitar material nenhum. Na minha cabeça eu ia ser um grande pintor, escultor. Isso jamais passou pela minha cabeça.

Em algum momento você precisou modificar sua arte por uma questão comercial?
Não precisei fazer. Acho que isso é prostituição. Eu não vou fazer baiana pra vender pra turista. Meu trabalho é papelão, eu retrato favela, eu retrato vendedor de milho, eu retrato o cara do angu. É muito fácil fazer um barraquinho, colocar o Corcovado atrás e "Bem-vindo ao Rio". Minha história não é essa. Eu quero que as pessoas conheçam que o morador da favela é gente, que o cara que vende angú é tão gente quanto eu. Às vezes, ele ganha mais que o próprio médico que discrimina ele. Eu faço uma coisa para as pessoas prestarem atenção no povo que tem no Rio de Janeiro.

Você imaginava que a sua arte fosse te levar tão longe?
Quando fui no Jô Soares eu disse: "Olha só aonde o lixo vai me levar". Tenho trabalho na Holanda, Alemanha, Suíça, Finlândia, Nova Iorque, Chicago, Washington, Boston e por aí afora. Em Boston, quando expus, encontrei o baterista e o vocalista do Aerosmith. Eles viram o trabalho e compraram. A admiração que tinham por mim era a mesma que tinha por eles. Isso é muito engraçado

Como você explica o fato de as pessoas lá de fora admirarem um trabalho que é tão focado em uma realidade carioca?
A arte você não precisa entender, tem que sentir emoção. O artista não tem que explicar a obra dele. Há algumas obras de vanguarda que são um quadro branco e um pontinho preto no meio. Tem mais explicação do que arte. É legal ser admirado lá fora, pela parte financeira.

Como é sua relação com Laranjeiras?
Nasci aqui em 1957. Fui pra Ipanema, mas não achei legal. Não tem uma birosca para bater um papo! Aqui eu saio todo sujo de tinta, encontro meus amigos. Em Ipanema eu fui discriminado socialmente até descobrirem que eu era um artista que saía na Globo, no Jornal do Brasil , aí começaram a falar comigo no prédio.
A vila que eu moro é maravilhosa. As pessoas são iguais e tem qualidade de vida. O ser humano têm que procurar qualidade. Pode ser aqui, em Caxias, Nova Iguaçu ou na favela.

Como você avalia a situação da quadra da Cardoso Júnior?
Eu moro numa rua maravilhosa e do lado de uma quadra onde não é feito nada. Atrás da quadra, tem um quartel com um espaço verde, que é uma mini-reserva, com tucano, arara e vários bichos. Poderiam fazer uma parceria com atividades na quadra e as pessoas visitarem o espaço do quartel. Ninguém faz nada. Não movimenta nada.
Existe um samba que acontece uma vez por ano na época do carnaval. Os meninos até têm uma intenção legal, mas eles tinham que aprender com os caras na Bahia. Lá os blocos têm curso de capoeira, corte de cabelo etc. A intenção de montar um bloco tem que passar também pelo social.

Como você imagina a solução para esses problemas sociais?
Laranjeiras está precisando de uma chacoalhada. De uns oito anos pra cá o número de moradores de rua triplicou. Não adianta colocar tanque de guerra na porta da favela se não tem um trabalho social. A governadora chega aqui em cima pelo alto. O prefeito não anda pela rua para ver o que está acontecendo.
Isso é uma utopia minha: se cada dono de estabelecimento do Largo do Machado ao Cosme Velho desse 50 reais por mês, daria para fazer um tremendo trabalho social da Rua das Laranjeiras até a Glória. Oficina nas praças, esporte, música, dança, arte. Se a bandidagem tá invadindo a sua casa, por que a arte não pode invadir as praças? A arte tinha que ir pra rua. Eles vão proibir? Ou a gente faz isso agora ou daqui a pouco não vai dar nem pra sair de casa.

Tem acompanhado o caso das Casas Casadas, que até hoje ainda não ganhou um destino?
Eu freqüentei aquilo quando era cabeça-de-porco. Fiquei todo feliz quando disseram que ia restaurar. Agora está tudo reformado e não acontece nada. Eu acho que deveríamos ocupar pelo menos a pracinha da frente com movimento de arte pra ver se muda alguma coisa.

Você recebe muita gente no seu ateliê, inclusive o chef de cozinha e apresentador Olivier Anquier e sua esposa, a atriz Débora Block. Como se deu essa relação?
Ele leu uma matéria minha numa viagem e ficou uns seis meses me procurando. Nos encontramos para ele fazer uma entrevista e acabou virando amizade. Hoje ele tem umas quinze peças minhas. Conheci sua esposa e os filhos. Um dos filhos até comemorou o aniversário aqui na Vila com os amiguinhos. Muito legal ver toda aquela garotada acostumada com playground correndo por aqui.

Hoje você é um artista que tem uma empresária (Any Dana) e vive exclusivamente da arte. Conseguiu ficar rico?
Às vezes tá legal e outras vezes está que nem os moradores que eu retrato: no maior sufoco. (risos). Não tenho o sonho de ficar rico.

Recentemente você tem trabalhado fazendo cenário para show e peças. Como é isso?
Pois é. Fiz o cenário do DVD da Tetê Spin-dola, depois fiz o cenário do show do Léo Maia, filho do Tim maia e grande amigo. Fiz um cenário no carnaval de 550 barracos para um evento para uns navios que estavam no porto. Fiz o cenário da peça da Lidoca. As pessoas agora estão me incentivando nessa área.

Você tem algum projeto para o bairro?
Tem uma casa no numero 19 da rua Cardoso Júnior, que é datada de 1827. Estou há mais de dez anos atrás desse espaço para fazer o museu do papelão. Trabalhar com os moradores e ter um lugar onde encontrar arte do rio de Janeiro só com material reciclado. Eu soube que a Secretaria das Culturas pegou a casa. Mas até agora não vi fazerem nada. Está abandonada. A minha vontade é invadir aquilo lá.

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"Laranjeiras está precisando de uma chacoalhada. A arte tinha que ir pra rua. Ou a gente faz isso agora ou daqui a pouco não vai dar nem pra sair de casa"
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Acima, à esquerda, Sérgio fala à reportagem no Armazém Cardozão. No alto, à direita, sua casa/ateliê. Abaixo, à esquerda, o artista posa ao lado da bolsa recém-criada. No canto inferior, à direita,as famosas favelas em miniatura feita de papelão

 




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ano 26 - nº 211
Mar-Abr/06