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 CULTURA E TURISMO




Casa dos Abacaxis

Um belo casarão com belas histórias

Por Ana Cristina Tavares
[email protected]

Na Rua Cosme Velho, 857, a poucos metros do Largo do Boticário no Cosme Velho, destaca-se um daqueles típicos casarões do Rio Antigo. Conhecido como a Casa dos Abacaxis, foi freqüentado por grandes personalidades da cultura brasileira, como: Ataulfo Alves e Suas Pastoras, Assis Chateaubriand, Gilberto Freyre, Carlos Drummond de Andrade, Austregésilo de Athayde, Franz Krajcberg, a atriz inglesa Vivian Leigh, o diretor italiano Franco Zefirelli, Fernanda Montenegro, Tonia Carrero, Ítalo Rossi e Paulo Autran. O curioso apelido, se refere à presença de esculturas metálicas da fruta que ornamentam a fachada.

Construída em 1843 pelo arquiteto José Maria Jacinto Rabello, discípulo de Grandjean de Montigny, para o Comendador Manuel Borges da Costa, a casa é um dos poucos exemplares de chalé neoclássico de estilo híbrido. Alguns anos depois foi vendida e em 1944 retorna às mãos da família do Comendador por meio de sua bisneta, Anna Amelia, e de seu marido, Marcos Carneiro de Mendonça. O casal decide, então, restaurá-la conforme as plantas originais, aproveitando para construir garagem, varanda e terraço.

Segundo Bárbara Heliodora - famosa crítica de teatro e filha do casal, a idéia dos abacaxis na fachada foi de sua mãe, que os trouxera do interior de Minas Gerais. Bárbara conta que no século XIX era comum que as sacadas das casas fossem adornadas com abacaxis em ferro.

Patricia Bueno - neta de Anna Amelia e Marcos de Mendonça, diz que parte do material utilizado na reforma foi adquirido em demolições feitas para a abertura da Avenida Presidente Vargas.




Anna Amelia e Marcos Carneiro de Mendonça: Ilustres moradores


A carioca Anna Amelia de Queiroz Carneiro de Mendonça (1896-1971), passou a infância no interior de Minas Gerais e foi educada por preceptoras brasileiras, inglesas e alemãs. Ao retornar ao Rio, passa a viver com a família na Estrada Nova da Tijuca.

Poeta, ela traduziu poemas do inglês, francês e alemão, inclusive duas peças de William Shakespeare. Foi fundadora da Casa do Estudante do Brasil (CEB), localizada na Praça Ana Amélia, no Centro (RJ).

Foi assistindo a uma partida de futebol no América que Anna Amelia, grande admiradora do esporte recém chegado ao Brasil, conheceu Marcos.

Mineiro de Cataguases, Marcos Carneiro de Mendonça (1894-1988) foi goleiro colecionador de títulos: vencedor do Campeonato Carioca de 1913 e campeão da Copa Roca de torneios Rio-São Paulo pelo América; tri-campeão pelo Fluminense; vencedor do Campeonato Sul Americano com a seleção brasileira e presidente do Fluminense de 1941 a 1943. Isso sem falar em sua paixão pela História do Brasil.

Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil (IHGB) e criador do Centro de Estudos e Pesquisas Históricas (CEPH), Marcos dedicou parte de sua vida à pesquisa sobre o século XVIII no Brasil e especializou-se no período do Marquês de Pombal. A guia de turismo e moradora do Cosme Velho, Maria Angélica Monnerat Alves, diz que a "Casa dos Abacaxis" chegou a abrigar a maior biblioteca sobre o Brasil do século XVIII.

"A biblioteca de cerca de 11 mil volumes inclui as obras dos grandes viajantes Rugendas, Debret, Maximilian Von Wide, uma coleção Brasiliana completa e ainda 7 mil documentos inéditos, adquiridos no Arquivo Nacional de Portugal - Torre do Tombo. Este acervo é hoje um dos destaques da biblioteca da Academia Brasileira de Letras", informa Patrícia.

O casal Carneiro Mendonça era também grande incentivador da cultura. Ocasionalmente, promoviam palestras, seminários e exposições no casarão. A Exposição de Arte Sacra, na década de 70, com obras das coleções da família e de amigos, foi uma das últimas abertas ao público. A renda dos ingressos foi revertida para projetos sociais que apoiavam.

O acervo artístico da família era de uma importância tão relevante que no período de construção do Túnel Rebouças - próximo à casa, o g overnador Carlos Lacerda solicitou que as antigüidades fossem encaixotadas. Porém, Anna Amelia se recusou a viver em ambiente despido de tudo o que ela e o marido colecionaram. Não empacotou uma peça sequer e, felizmente, nenhum objeto foi danificado pelos mais de quatro anos de dinamite. "Eram trocados regularmente, os vidros das janelas e as telhas. O record foi de 69 em um dia.", relata Bárbara Heliodora.

O Solar dos Abacaxis, como também é conhecido, foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) em 12 de setembro de 1990.









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