Informativo da Assoc. de Moradores e Amigos de Laranjeiras - AMAL
Ano XVIII | nº 223 | Janeiro 2008
BAIRRO
Construção da Gafisa na R. das Laranjeiras gera polêmica
Vizinhos da nova construção temem que os sérios abalos nas estruturas de seus edifícios que durante a construção da Lojas Americanas nos anos 70 voltem a acontecer com as obras do novo empreendimento da Gafisa no local
Marcella Vieira
Laranjeiras já pode se preparar para receber mais um condomínio residencial. O terreno da Rua das Laranjeiras, nº 29, que abrigava a tradicional Feirinha de Laranjeiras e um estacionamento de carros, já está totalmente desocupado e pronto para o início das obras do novo empreendimento da construtora Gafisa.
Porém, aquilo que parece ser mais uma construção que trará valorização à área já começa a ser contestado e é alvo de preocupações por parte dos moradores, sobretudo dos vizinhos diretos do terreno, que fica bem ao lado da Lojas Americanas da rua. E foi exatamente a construção da tradicional loja, nos anos 70, que originou boa parte das preocupações que hoje afligem os vizinhos do local.
As obras da Americanas trouxeram diversos abalos na estrutura do Condomínio Solar de Laranjeiras (Rua das Laranjeiras, 43). Salatiel Pereira, síndico do edifício, afirmou que as obras causaram diversas rachaduras e problemas de deslocamento na estrutura, além de outros transtornos aos moradores do prédio, chegando a haver temor pelo risco de desabamento do edifício.
– Se a construção da Americanas, que tem apenas quatro andares, quase derrubou nosso prédio, imaginem uma construção de um edifício desse porte? – diz o síndico.
O condomínio chegou, inclusive, a contratar uma empresa de engenharia para uma análise mais aprofundada sobre os riscos que novas obras naquele terreno trariam ao edifício. Segundo documentos apresentados à reportagem pelo síndico a partir da análise, foi constatado que obras com escavações profundas e “bate-estacas” seriam muito prejudiciais às instalações vizinhas e deveriam ser objetos de rígida vistoria e acompanhamento.
Área saturada de empreendimentos residenciais
Salatiel Pereira destacou também outro problema que preocupa moradores da circunvizinhança: o trânsito. Com a iminente inauguração do condomínio Quartier Carioca na Rua Bento Lisboa, no Catete, as expectativas são de que o trânsito de toda a área fique muito mais sobrecarregado.
– Acho que mais um grande empreendimento residencial aqui não trará benefícios, pois vai sufocar o trânsito ainda mais, já que há este grande prédio na Bento Lisboa que será inaugurado em breve. Deveria ser feita aqui uma construção de uso comunitário – afirma o síndico, destacando uma questão também levantada por outros moradores da área: por que mais um empreendimento residencial em um bairro já tão saturada por este tipo de construção?
Huáscar Lozano, síndico do Edifício Palladium, que fica na Rua Conde de Baependi, também demonstra preocupação com a falta de opções de lazer para os moradores do bairro.
– Se eu tivesse condições de optar, certamente preferiria um shopping com área de lazer ou um centro esportivo, cultural e comercial – destaca Lozano, que revela sua principal preocupação em relação à nova construção:
– Nossa preocupação é saber qual vai ser o impacto de mais tanta gente aqui e mais tanta gente do empreendimento da Bento Lisboa sobre o trânsito e sobre a segurança do local – afirma.
Além de Lozano, Salatiel Pereira procurou mais dois síndicos de condomínios vizinhos – Edifícios Anapurus e Georgetown, ambos na Conde de Baependi – para promover reuniões e discussões sobre o assunto. As conversas geraram uma carta assinada pelos quatro síndicos que foi enviada à Gafisa em fevereiro de 2007, com solicitações de detalhes mais específicos sobre as obras do novo empreendimento. Outros ofícios do condomínio Solar de Laranjeiras foram enviados à Gafisa e também à empresa Continente Supermercados Ltda., antiga proprietária do terreno, já que a venda do mesmo foi feita para a construtora somente em junho de 2007.
Além das preocupações com o impacto das obras, o síndico do Edifício Anapurus, Farid Mansur, preferiu destacar seu saudosismo em relação ao terreno. Ele, que é morador do prédio desde 1964, tem acesso completo ao local onde será construído o novo edifício através dos fundos de seu apartamento:
– Antigamente, aqui era um terreno muito bem plantado com várias frutas. E mesmo na época do estacionamento era bem calmo e o clima ainda é bastante ameno. Isso deve mudar com a nova construção – ressalta, preocupado, o síndico.
A resposta da Gafisa, através de um ofício, ao síndico do Solar de Laranjeiras veio somente no fim de agosto do ano passado e a empresa garantiu que o empreendimento será detalhadamente analisado e que rígidas vistorias dos estados físicos dos imóveis próximos serão feitos. Além disso, a carta afirma que a empresa sempre busca seus novos “vizinhos” para a abertura de um canal direto de informações. Porém, até o momento, nenhum dos edifícios foi procurado e detalhes mais específicos sobre a obra também não foram divulgados.
Comerciantes animados
Se moradores vizinhos estão preocupados com as obras, os comerciantes se animam com a possibilidade de mais movimento na área. Rony Warwar, síndico da galeria Solar de Laranjeiras – que fica embaixo do condomínio – e proprietário de uma loja na mesma galeria está animado com a nova construção:
– Acho essa nova construção muito válida e boa para o comércio – afirma ele, que completa dizendo que a questão do trânsito não o preocupa:
– O trânsito é bagunçado porque não tem fiscalização e não por causa de mais uma prédio – conclui.
Já Eliana Barros, proprietária de uma loja de produtos de limpeza da galeria, também acredita que o empreendimento será bom para o comércio, mas é mais cautelosa em relação à construção.
– É bom pelo fluxo de pessoas, mas ficamos preocupados com essas obras. Quando chove, por exemplo, os ralos transbordam, pois há um rio aqui embaixo. Toda grande construção como essa é um pouco assustadora – diz ela.
A comerciante ressalta também a falta que muitos moradores vêm sentindo da tradicional feirinha do local – que foi retirada dali no dia 23 de dezembro – e revela qual seria, para ela, o melhor empreendimento a ser construído no terreno:
– Um bom supermercado seria a melhor opção para esta área – afirma Eliana Barros.
Gafisa: projeto será apresentado à AMAL
Procurada pela reportagem da Folha da Laranjeira para dar mais detalhes sobre as obras e responder às contestações dos moradores, a Gafisa, através de sua assessoria de imprensa, apenas emitiu um breve comunicado confirmando a compra do terreno. Segundo a empresa, o projeto está sendo desenvolvido de acordo com as características do local e será apresentado à Associação de Moradores de Laranjeiras assim que estiver concluído.
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Fotos Marcella Vieira
Foto 1: Terreno onde será construído o novo edifício da Gafisa, na Rua das Laranjeiras. A previsão de entrega é de 24 meses e vendas começam em abril
Foto 2: Salatiel Pereira, síndico do Solar de Laranjeiras, prédio vizinho à construção