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© 2005 Isabel Vidal
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 CULTURA E TURISMO


PG3 - Continuação da História do Bairro


A CORTE:
CONSEQÜÊNCIAS PARA O BAIRRO

Com a transferência do governo português para o Brasil e o estabelecimento da Corte no Rio de Janeiro, a região da Carioca foi beneficiada em decorrência de alguns nobres terem-na escolhido para residirem. A própria rainha Carlota Joaquina, em 1818, adquiriu uma chácara no Largo do Machado (parte da que pertencera ao tenente Antônio José da Silva). Imediatamente foram realizadas obras na chácara, sob a orientação do Arquiteto Real Manoel da Costa, para adapta-la ao gosto de uma nobre européia. A capela foi restaurada e construído um mirante junto à casa principal, para que a rainha apreciasse a bela paisagem da baía da Guanabara. Por três anos, a rainha utilizou sua chácara de recreio das Laranjeiras. Mas, para saldar suas dívidas, os bens da rainha foram leiloados, entre eles essa chácara, que foi dividida em lotes. Os novos donos construíram suas casas, ganhando o Largo do Machado um aspecto de zona urbana.

O rápido aumento das construções nos terrenos da antiga chácara da rainha, a demanda da população da cidade por terrenos para edificações e por casas para aluguel, além das qualidades ambientais da região da Carioca, indicavam essa área como ideal para a expansão da cidade. Por isso, o comerciante Domingos Carvalho de Sá adquiriu a chácara que pertencera a Joaquim J. X. da Silva e, em 1837, abriu em parte dela a segunda rua do bairro (até então só existia a rua das Laranjeiras). Essa rua, que tinha o seu nome, hoje chama-se Gago Coutinho. A venda dos lotes foi um sucesso. Três anos após, o filho do capitão Antônio Velasco abriu uma rua na propriedade que herdara e vendeu vários lotes, nascendo assim a terceira rua de Laranjeiras - a atual rua Pereira da Silva.Foi nessa rua que, em 1834, os moradores de Laranjeiras, Cosme Velho, Glória e Catete se reuniram na casa de Velasco (neste local funciona hoje o Convento Cenáculo) para solicitarem ao poder público a criação da Freguesia de São José. O pedido foi aprovado, o que demonstra estar a região bastante desenvolvida, na época.

Com o falecimento dos velhos proprietários, seus herdeiros foram loteando cada quinhão da herança e, ao findar o século XIX, já estavam abertas, além daquelas três primeiras ruas, mais 23 logradouros: Ipiranga, Pinheiro Machado, Álvaro Chaves, Soares Cabral, Ribeiro de Almeida, Leite Leal, Sebastião de Lacerda, Alice, Mário Portela, Cardoso Junior, General Glicério (apenas a parte inicial), Eugênio Hussak, São Salvador, praça São Salvador, Conde de Baependi, Senador Corrêa, Esteves Júnior, Paissandu, Coelho Neto, Marquesa de Santos, Moura Brasil, Paulo César de Andrade e Martins Ribeiro.

O CONVÍVIO E A MISTURA DE USOS E DE PESSOAS

No aristocrático e pitoresco bairro das Laranjeiras conviviam os belos palacetes ajardinados, o comércio e a indústria. No início, o comércio se restringia ao Largo do Machado e ao começo das ruas das Laranjeiras; em seguida, foi adentrando por essa rua principal, concentrando-se basicamente no trecho do lado par, onde atualmente encontra-se a Hebraica, até perto da rua Almirante Salgado. A indústria se iniciou no bairro com uma fábrica de fogos de artifício na altura da rua Soares Cabral - por isso ela se chamava "beco do fogueteiro". Esse industrial, Antônio José Martins de Moura, que era português e especializado nesse ramo de atividade, requereu licença para instalar sua fábrica em fevereiro de 1854. Os moradores da vizinhança solicitaram, no ano de 1860, o fechamento da fábrica, cujo proprietário era então José Moreira da Cunha Rego; a Câmara Municipal acatou o pedido dos moradores e fechou-a no ano seguinte.

Na área da atual rua General Glicério e adjacências, em 1872, os Srs. Francisco de Sá Nogueira, José Duarte da Fonseca Silva e Miguel Couto dos Santos, sócios na "Companhia Econômica de Lavanderia a Vapor", instalaram uma lavanderia de grande porte. Mas, oito anos depois, a firma mudou de mãos e de ramo, passando a ser uma indústria de "fiação, tecidos e tinturaria" chamada "Alliança". Seus proprietários eram os portugueses José Augusto Laranja (coincidência!), Joaquim Carvalho de Oliveira e Silva e o inglês Henrique Whittaker. Este último, dois anos depois, retirou-se da firma. Assim começou a famosa Fábrica Aliança, que veio a ser uma das mais importantes do ramo no Rio de Janeiro. Essa fábrica mudou a composição sociocultural da população do bairro e, conseqüentemente, sua arquitetura e seu urbanismo. Muitas casas, pequenas, de porta-e-janela, foram edificadas; as vilas se espalharam pelo bairro, além daquelas construídas pela própria fábrica. O comércio cresceu e se diversificou. Os operários - portugueses, italianos e brasileiros - construíram um viver mais coletivo e popular. A fábrica oferecia atividades culturais e de lazer através do clube, do cinema e do teatro, além de escolas para os filhos de seus empregados. O aristocrático bairro de Laranjeiras passou a ser também operário, sem que, segundo depoimento de antigos trabalhadores e pessoas da elite do bairro, hoje ainda vivos, existissem conflitos entre as diversas classes sociais que aqui viviam. A fábrica, por causa de sua localização, não perturbava a filosofia residencial de Laranjeiras.

Havia também outra fábrica, na rua Pereira da Silva, que produzia cerveja, e cujo dono era o Sr. Luiz Bayer.

A abundância de água pura encontrável em suas diversas fontes foi o motivo para que essas fábricas se instalassem no bairro.

MUDANÇA DE SÉCULO

O Rio de Janeiro passou por grandes transformações urbanas, no final do século XIX e início do atual, para que segundo os governantes, intelectuais e empresários, se adequassem aos tempos modernos. O sonho de todos esses agentes era sanear a cidade, equipa-la, embeleza-la segundo a estética soprada dos centros cosmopolitas da Europa. O prefeito Pereira Passos, o que mais contribuiu para essa cosmopolitização da cidade, era morador de Laranjeiras e fez no bairro grandes obras, como a canalização do rio Carioca em galerias subterrâneas, a urbanização da praça São Salvador, a arborização dos logradouros e a pavimentação a asfalto de várias ruas. Com essas obras, o ar bucólico da rua das Laranjeiras - com o rio correndo, embora canalizado, mas a céu aberto, interceptado por pitorescas pontes - foi eliminado, restando apenas a beleza individual das casas particulares circundadas por seus jardins. Isto até que se iniciasse a derrubada dessas casas para construção dos edifícios de vários andares, símbolo da cidade moderna.

Embora situada entre o centro da cidade e a zona sul, mas por causa das montanhas que cercam a sua área, Laranjeiras era protegida do tráfego de passagem que se fazia entre as duas partes. Essa peculiaridade, que lhe garantia ter apenas o pequeno tráfego interno, começou a ser alterada com a abertura do primeiro túnel da cidade, em 1887, no alto da rua Alice; em seguida, com a realização do corte do Morro Novo Mundo ligando a rua Pinheiro Machado à rua Farani. O bairro começou a perder sua característica de "fim de linha", que o da Urca ainda conserva.

Largo do Machado em 1835. Pintura de Russel - Coleção de Antônio Camilo de Oliveira - Reprodução: Alfonso Alcázar

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