MACRO & MICRO
Por Gilson Nazareth
O Mestiço atemporal
O Homem brasileiro pertence a uma civilização e não a uma raça. Nossa pertença é cultural e não étnica.
Nossa civilização, tomada aqui o termo como cultura coletiva é ocidental, latina, ibérica, lusíada-cristã e, no nosso caso específico, luso-brasileira.
Os povos que nos legaram a língua, que nos dá o idiotismo de nossas abstrações, caracteres, moral leiga e religiosa, a escala/grafia/ harmonia musical, instituições governamentais e da sociedade civil, a base da legislação, usos e costumes são latinos/ocidentais.
Enquanto brasileiros somos um povo etnicamente mestiço e herdeiros de uma cultura branca latina. Atemporalmente somos todos mestiços: – ou descendemos de negros e índios com ou sem vestígios nos nossos fenótipos ou, se puros europeus, teremos nossos descendentes com sangue negro ou ameríndio; somos um povo atemporalmente mestiço.
Não somos brancos, negros, índios, mulatos, mamelucos ou cafuzos, não somos frações, somos unidade, somos brasileiros. Querer catalogar/classificar diferença de colorido e caracteres físicos é, no Brasil, um intricado jogo de sutilezas.
As culturas indígenas e africanas só passaram a importar, para o poder estamental, e seus acólitos, na medida em que estes conceitos-no-vazio mostraram-se politicamente manipuláveis.
As culturas indígenas perderam seus últimos espaços, dentro da cultura branca, com o abandono de línguas indígenas como uso corrente, no século XVIII.
O atual problema indígena não é só nosso mas de toda a latinidade do Novo Mundo. Uma política-indigenista realista se faz necessária face à manipulação política internacionalista contra a soberania dos países latinos-americanos.
Os enclaves indígenas são lidos, por organizações internacionalistas, como nações milenares, e não como tribos que são, as quais não se veriam como brasileiras. Estas nações, muitas vezes, só existem como tal para os mesmos grupos internacionalistas. Estas tribos e/ou soma de tribos indígenas foram plantadas em imensos territórios estratégicos e de rico subsolo.
São espaços onde a soberania brasileira é negada por organizações-não-governamentais e países dispostos a tutelar, em proveito próprio, a autodeterminação destas tribos.
A quem pergunta onde estão os índios podemos responder que estão em nossas famílias, nossas casas, nossas ruas onde os caracteres indígenas predominam sobre os caracteres antropológicos brancos.
Com os negros a comoção provocada pela sua presença é também física mas em caracteres antropológicos vitimados pelo preconceito. Ao contrário da origem ameríndia a origem negra traz o referencial da cor da pele elemento por demais visível e também referencial da anterior situação jurídica de escravo.
O preconceito contra o negro é um fato permanente com situações extremadas e recorrentes. A perseguição acirrada aos negros foi ostensiva até o final da era varguista.
Hoje a manipulação política do negro apresenta igual crueldade e aparente paternalismo.
A verdade é que com a criação de secretarias de governo do negro e apoio a movimentos de conscientização negra foi se armando um imenso gueto cultural.
Com o espaço dado a uma “cultura negra” procura-se fazer com que os afro-descendentes, terminologia politicamente correta, se folquelorizem; é uma das formas de lhes barrar o acesso à cultura branca. Satisfeitos com o exótico e não preparados para o exercício do poder.
Cultura negra para os negros e cultura branca para os brancos é a mais cruel espoliação que se pode fazer ao negro.
Cultura negra, como ideário, significa abdicar ao acesso ao poder. A política de cotas vem desqualificar. O certo seria escola de excelência para toda a população carente. População esta composta de famílias multirraciais.
Não há o que construirmos se divididos por um quantitativo imponderável de percentuais de sangue branco, negro e ameríndio.
Temos que assumir que nossa elite é mestiça nos mais variados tons, que vai até o branco absoluto. Somos mestiços claríssimos ou escuríssimos mas todos inapelavelmente mestiços.
Somos nossos ancestrais de variegadas cores e enquanto pluralidade e somos, enquanto individualidade, o que aparentamos ser quer por fenótipo quer por opções culturais.
No sentido étnico não temos o outro no Brasil. Somos ao mesmo tempo um e o outro dos outros.