Rio de Janeiro, 24/04/09
Um cozido à portuguesa
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Convém dizer que aprecio a cortesia e a sofisticação de um bom serviço "à la carte". Entretanto, não fosse por figuras como a que virou tema desta coluna, seria adepta, feliz da vida, do estilo "faça o seu pedido, sirva-se e devolva a bandeja no balcão".
OK, declaração um pouco forte para quem escreve numa coluna de gastronomia?! Pode ser... mas vamos a persona em destaque, que é o que interessa.
Fim de tarde de um domingo de sol, pós-caminhada e meditação na floresta da Tijuca. Eis que bate uma vontade de comer feijão preto com arroz branco, com "tempero de mãe". Onde ir?!
Meia dúzia de tentativas frustradas depois e a sugestão da ilustre vizinha de site, Vilma Goulart,
Informação de Primeira, fez valer a peregrinação gastronômica. Ela lembrou uma dica do Alceu Nobre, do projeto "
Mexa-se Laranjeiras" , e lá fomos nós à Casa do Minho. Logo de cara pensei que daria prosseguimento ao tema da coluna passada, ou seja, quanto mais perto de casa, mais demoro a conhecer.
O melhor da surpresa ainda estava por vir: Sr. Zezinho, o garçom da Casa do Minho. Pois bem, dos 85 anos do reduto minhoto, no Cosme Velho, o simpático e solícito Sr. Zezinho está lá há 31 deles. Morador da comunidade do Vidigal, jogador de futevôlei, é exemplo do melhor estilo "parioca": nasceu paraibano, tornou-se carioca de coração e no jeito de viver.
Boa praça, típico profissional em extinção, praticamente um "case" de sucesso.
Entre uma prosa e outra, nos confidenciou que para ele não existe cliente difícil. Como exemplo, mencionou, sem dar nome ao boi, um assíduo freguês da casa, de quem seus colegas fugiam e a quem ele sempre se apresentava, encarando-o como um desafio a ser compreendido.
Desafio dos bons, com reconhecimento da família do senhor em questão.
Ao nos servir, percebemos na prática sua maestria. Éramos "clientes difíceis", em busca de feijão com arroz, justo no dia da especialidade da casa, o "Cozido à Portuguesa".
Ora pois, seu Zezinho não só nos fez repetir o prato, como esquecer nossa idéia inicial.
E justiça seja feita, não foi a fome, o tempero da comida. Afinal o feijão que acompanhou o cozido, era branco, mas de tão saboroso supriu e muito nossos desejos pelo feijão preto.
Saimos de lá satisfeitas com a comida e o atendimento 5 estrelas. Com a promessa de retornarmos para experimentar a pizza, cujo a massa é preparada pelo seu Zezinho. Praticamente uma subversão ao cardápio de culinária portuguesa.
Um abraço e até a próxima semana, se Deus assim permitir.