14/07/2006

ATITUDES DE PREVENÇÃO - VII

Por Sérgio Castiglione

Foram dois de uma só vez.

Mas não são gêmeos de nascimento. Talvez o sejam de infortúnio.

Ontem o Gaspar, cujas evoluções de capoeirista tive o deleite de assistir quando nós, da Rede Social do Cosme Velho, fizemos um mutirão de limpeza e conscientização sobre o meio ambiente, em junho do ano passado. Ele foi levado pelo pessoal do Corpo de Bombeiros. Estava encostado no muro do Memorial da Sociedade de Pediatria, cuja fantástica exposição certamente não conhece, totalmente edemaciado (inchado), por provável doença do fígado, ou dos rins, ou do coraçâo. E da alma.

Hoje Dona Odete, que há uma semana chamei de Edna, a sergipana de 80 anos.
Mobilizados por telefonemas meus, de outros moradores e de policiais do BPTUR, o pessoal dos Bombeiros corajosamente "bypassou" as determinações burocráticas para que ela só saísse dali retirada pelo pessoal da Fundação Leão XIII. Estava enraizada naquele canto de mundo, em frente à uma das suas casas (filha de Deus), a Igreja de São Judas Tadeu, na qual talvez nem tenha nunca entrado e nem seja devota, sofrendo provável edema pulmonar. E ali morreria do edema, das lesões da pele que se sobrepunha a todos os seus restos fisiológicos há meses acumulados, da desnutrição do corpo e do espírito. De um abandono falsamente assistido.

De braços cruzados, quando há tanto para fazer, o edema também vai nos atingir. Inchados em nossas convicções de que alguém vai dar um jeito, nosso ãmago não sobreviverá.

Os caminhos que nos levam a evitar tantos descaminhos passam inevitavelmente pelo amor, pela consciência de nossa capacidade de ação, pelo sonoro não à inércia. É função inerente àquele que sabe, ensinar ao que ainda não aprendeu; ao que pode, dar a mão ao que está momentaneamente impossibilitado.

As ações de cunho cultural e os projetos da área de educação são de urgente necessidade. A Rede Social do Cosme Velho e a Associação de Moradores do Cosme Velho vêm desenvolvendo vários destes projetos, abrindo portas para a participação de todos.

Enquanto escrevo, escuto uma indagação sobre a propriedade de colocar este texto no meu site. Ele parece se referir a um aspecto muito particular do lugar onde moro. Mas afirmo que não há nada melhor a fazer como profissional que se dispõe à atuar na área de saúde, do que deixar patente o quanto é importante agir, cuidar, não abandonar, prevenir. Além disso, não somos moradores de um só lugar. Somos seres humanos, habitantes de um mesmo mundo, e está mais do que na hora de reconhecer nossa interdependência.

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Sérgio Castiglione
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